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Colômbia encontra armas suecas vendidas à Venezuela nas mãos das Farc

O governo de Bogotá anunciou ter descoberto armas de fabricação sueca em um acampamento das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), que teriam sido vendidas primeiramente à Venezuela, o que obrigou nesta segunda-feira a Suécia a pedir explicações a Caracas, num contexto diplomático já muito tenso entre os dois países vizinhos. "Durante várias operações, recuperamos arsenais das Farc. Encontramos munições e equipamentos potentes, entre outras, armas antitanques que um país europeu vendeu à Venezuela, e que estava em mãos das Farc", declarou o vice-presidente colombiano, Francisco Santos, à Radio Caracol. Domingo o presidente Alvaro Uribe denunciou a aquisição de lança-foguetes pelos guerrilheiros esquerdistas no mercado de armas internacionais, sem citar diretamente a Venezuela vizinha. Segundo a imprensa local, estas armas de fabricação sueca foram encontradas em julho de 2008 e sua origem pode ser determinada por seus números de série. A informação foi divulgada em um primeiro momento pela revista britânica especializada em questões de defesa, Jane's. Em seguida, confirmada pela revista colombiana Semana. Segundo a revista colombiana, Bogotá comunicou a Caracas a apreensão dos lança-foguetes AT-4", em um acampamento das Farc, após ter obtido a confirmação da Suécia de que estas armas pertenciam a um lote vendido à Venezuela. Nesta segunda-feira, a Suécia confirmou a informação de que pediu explicações à Venezuela sobre as armas suecas vendidas a Caracas e encontradas com as Farc. "Pedimos a dirigentes do governo da Venezuela explicações sobre como estas armas chegaram à Colômbia", declarou à AFP Jens Eriksson, ministro sueco do Comércio. A revista Jane's revelou que o exército colombiano apreendeu das Farc vários lança-foguetes antitanque AT4 fabricados pela sueca Saab. A Saab lamentou nesta segunda-feira que as armas tivessem ido parar nas mãos das Farc. "É sempre desagradável quando isso acontece", declarou o diretor-geral da filial da Saab que fabrica os AT4, Saab Bofors Dynamics, sem querer se pronunciar especificamente sobre esta apreensão envolvendo as Farc. "Todos os países para os quais exportamos devem assinar um certificado de destinatário final, caso contrário a exportação não é autorizada. Infelizmente, às vezes, uma arma é encontrada onde não deveria, mas é raro", explicou Tomas Samuelsson em um e-mail à AFP. Em Caracas, o ministro venezuelano do Interior, Tareck El Aissami, rejeitou as denúncias de que o lote de armas vendido pela Suécia à Venezuela tivesse sido encontrado em um acampamento das Farc, destacando que está é uma "nova investida" contra seu país. "Isto me parece uma nova investida contra nosso governo fundamentada em mentiras", disse El Aissami em entrevista à imprensa. No entanto, o ministro destacou que "caberá ao presidente (Hugo) Chávez, através da chancelaria, responder aos pedidos (de informação) feitos pelo governo colombiano" a este respeito. As declarações do ministro são a primeira resposta da Venezuela neste caso. Este caso polêmico agrava as já tensas relações entre a Colômbia e a Venezuela, quase um ano e meio após uma crise diplomática que parecia insuperável, envolvendo as Farc. Em 1º de março de 2008, o exército colombiano bombardeou as Farc em território equatoriano o que foi motivo para o rompimento de relações diplomáticas, desta vez, entre os dois países. A Colômbia e a Venezuela conseguiram amenizar a situação durante o encontro bilateral entre Alvaro Uribe e Hugo Chavez em julho de 2008, seguido de dois outros encontros desde então. A tensão voltou após o anúncio por Bogotá de um acordo de princípio americano-colombiano que permite ao exército americano fazer uso de pelo menos três bases na Colômbia, por operações antidrogas. Hugo Chavez acusou imediatamente Washington te tentar invadir seu país e anunciou que "revisaria" suas relações com a Colômbia.