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EUA se esforçam para fechar Guantánamo, mas dificuldades se acumulam

Seis meses antes da data fixada pelo presidente americano, Barack Obama, para o fechamento da prisão de Guantánamo, em Cuba, obstáculos se acumulam e dificultam o cumprimento desta meta, o que já levanta dúvidas sobre a possibilidade real do encerramento de suas atividades até janeiro. Desde que Obama assinou a ordem executiva que determinava o fechamento da polêmica prisão, em 22 de janeiro, apenas 11 detentos foram libertados e um foi transferido para os Estados Unidos, onde será submetido a julgamento em uma corte civil. A maioria dos 229 prisioneiros da "guerra contra o terror" que permanece na base naval americana, localizada no sul de Cuba, está detida há mais de sete anos sem jamais ter sido julgada - ou sequer acusada formalmente. Na última segunda-feira, altos representantes do governo Obama informaram que a força-tarefa criada para rever as políticas de detenção de Guantánamo precisará de mais seis meses para concluir seu relatório, que deveria ter sido entregue nesta terça-feira. Um outro grupo, que está examinando as políticas de interrogatório usadas na base, terá mais dois meses para concluir seu relatório. Lançada em 2002 pelo então presidente George W. Bush, Guantánamo hoje é um espinho no sapato de Barack Obama, que está batendo de frente com os parlamentares que barram a transferência de presos para o território americano até que o governo apresente um plano esclarecedor sobre seu destino final. Os aliados dos EUA, embora tenham comemorado a decisão de Obama de fechar a prisão, têm se mostrado reticentes na hora de colaborar, negando os apelos americanos para receber ex-prisioneiros. "Estas são decisões difíceis, complicadas e consequentes", afirmou um oficial do governo, que pediu anonimato. Afirmando que o fechamento da prisão em janeiro permanece sendo um objetivo do governo, o oficial revelou que a força-tarefa que estuda as políticas de detenção está tentando "montar um plano abrangente, lidar com cada um dos elementos (...) para ir ao Congresso com este plano e com determinações e buscar apoio". Apesar de reconhecer que o Congresso, incluindo senadores da maioria democrata, reduziu o ritmo do processo temporariamente, o governo ainda confia no cumprimento do prazo estipulado em janeiro. Uma terceira força-tarefa está examinando caso a caso a situação dos prisioneiros, com o objetivo de determinar quais podem ser libertados e quais devem ser julgados - e qual é a corte apropriada. Com mais da metade dos casos já revisada seis meses antes do fim do prazo, esta força-tarefa já autorizou a transferência de pelo menos 50 detentos e enviou "um número significativo" de outros casos para promotores, para que estes avaliem a situação e formulem acusações, indicou outro oficial. A fonte explicou que "a informação (sobre os prisioneiros) estava espalhada por diferentes agências (da inteligência)", e que isto dificulta a apuração dos casos. A missão do governo Obama pode ficar ainda mais complicada, caso a força-tarefa chegue à conclusão de que alguns dos prisioneiros devam ficar detidos indefinidamente, por não haver provas suficientes para acusá-los, apesar de serem considerados perigosos demais para a libertação. A eventual decisão gera enorme polêmica, principalmente entre parlamentares mais à esquerda, e ainda não foi aprovada pela Casa Branca, segundo membros do governo, destacando que jamais será colocada em prática sem o aval do Congresso.