Como fez em todos os países pelos quais passou nos primeiros 100 dias à frente da diplomacia israelense, o chanceler Avigdor Lieberman usará a visita ao Brasil para pedir uma posição mais rígida do país em relação ao Irã. A aproximação do governo brasileiro com Teerã, evidenciada com a visita confirmada - e cancelada na última hora do presidente Mahmud Ahmadinejad a Brasília, no último mês, vem sendo acompanhada por Israel há algum tempo. A vinda de Lieberman servirá para "entender melhor" a visão do Brasil sobre o regime nuclear iraniano. Apesar de disposto a escutá-lo, o Itamaraty adianta que não vai modificar em nada a relação com a república islâmica.
[SAIBAMAIS]"Entendemos a posição israelense em relação ao Irã, mas temos excelentes relações com Teerã e não há razão para alterar nossa postura", afirma o embaixador Piragibe Tarragô, subsecretário-geral do Ministério das Relações Exteriores para África e Oriente Médio. O diplomata também garante que o governo não considera "intermediar" um diálogo entre as duas nações rivais. O embaixador de Israel, Giora Becher, no entanto, deixa transparecer uma ponta de esperança de que, após a visita de Lieberman, o Brasil endureça o discurso com Teerã. "A ideia é falar abertamente e entender melhor o que cada lado pensa (sobre o Irã). Depois, os dois governos vão analisar se é possível mudar a política em relação ao Irã", revela.
Além do polêmico regime islâmico, o processo de paz entre israelenses e palestinos deve permear o encontro entre o chanceler israelense e o colega brasileiro, Celso Amorim. A expectativa é saber se a discussão sobre o conflito avançará em temas de divergência entre o Planalto e o ultradireitista Lieberman. Do lado de cá, o Itamaraty reafirmará a intenção de "contribuir para facilitar o diálogo entre as partes em conflito". "Esse é o papel que imaginamos poder fazer sempre que for do interesse deles", diz Tarragô.
Relações bilaterais
Lieberman chegará ao Brasil depois de amanhã, mas só virá a Brasília na quarta-feira. Antes de seguir para os compromissos políticos na capital, ele visitará a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). A escala se justifica na intenção revelada pelo governo israelense de dobrar o montante do comércio bilateral, que chega hoje a US$ 1,6 bilhão. "Acreditamos que é possível facilmente chegar a US$ 3 bilhões, principalmente depois da ratificação do Tratado de Livre Comércio (entre Israel e o Mercosul)", destaca Giora Becher. A questão econômica tem se mostrado o mais sólido pilar da relação entre os países. Só no governo Lula, o comércio mais do que triplicou, com valores significativos na importação de produtos pelo Brasil.
Nessa visita, serão fechados dois acordos que podem contribuir para elevar ainda mais esses números. Um deles estabelecerá a frequência dos voos diretos entre os países, que poderá chegar a quatro vezes por semana. Outro acordo pretende promover o turismo dos dois lados. "No último ano, Israel recebeu mais de 30 mil turistas brasileiros, mas queremos chegar a 50 mil por ano", afirma o embaixador israelense.
No âmbito político, poucas demonstrações de interesse minam a relação. Um chanceler israelense não visita o Brasil desde a década de 1980. O presidente Lula nunca achou espaço na agenda para uma visita a Israel - apesar de já ter viajado a Síria, Egito e Arábia Saudita. Os dois lados minimizam a questão. "O Brasil tem uma posição muito positiva em relação a Israel. Temos laços estreitos", afirma Tarragô.
"Temos agora uma visita do chanceler israelense ao país e também vamos ter, no fim deste ano, a vinda do presidente Shimon Peres", diz Becher."%u201CEspero que, em 2010, o presidente Lula possa também visitar Israel." Com o ano eleitoral à vista, é pouco provável que isso ocorra.