TEGUCIGALPA - Os simpatizantes do presidente deposto Manuel Zelaya continuaram nesta sexta-feira seu movimento de protesto em Honduras para aumentar a pressão sobre as autoridades, já pressionadas pela comunidade internacional, na véspera de uma reunião de mediação na Costa Rica.
[SAIBAMAIS]
Milhares de manifestantes decidiram manter o bloqueio das estradas no país, principalmente das que passam por Tegucigalpa, para exigir a volta do dirigente, expulso de pijama por militares em um golpe de Estado perpetrado na manhã de 28 de junho.
"Não desistam, ou Honduras vai desmoronar", clamou o porta-voz do Bloco Popular, Juan Barahona.
Uma semana depois de uma primeira tentativa de mediação, que fracassou, o presidente da Costa Rica e prêmio Nobel da Paz Oscar Arias conclamou as duas partes a aceitarem a formação de um "governo de união nacional", por ocasião de uma reunião prevista para este sábado em San José.
A ideia já foi rejeitada pelo presidente interino de Honduras, Roberto Micheletti, o ex-presidente do Congresso designado para o cargo de chefe de Estado após a expulsão de Zelaya.
"Não aceitamos que um país nos imponha seu ponto de vista. Nossa posição é firme, e não vamos mudar", afirmou Micheletti, que já propôs renunciar ao cargo desde que Zelaya não volte ao poder.
Os dois homens serão representados por suas delegações nas negociações da Costa Rica.
Ao contrário de Micheletti, Zelaya, que desde o início da crise conta com o apoio incondicional da comunidade internacional, não rejeitou a proposta de Arias, uma personalidade respeitada na América Central, onde trabalhou para a resolução dos conflitos civis que assolaram a região nos anos 80.
"Ainda há uma porta aberta. Não podemos perder a esperança", declarou Zelaya ao canal venezuelano VTV.
Diversas opções deverão ser apresentadas para superar a crise que isola este país pobre de oito milhões de habitantes, para o qual os Estados Unidos e as instituições financeiras internacionais suspenderam sua ajuda.
Em troca de sua volta ao poder e uma anistia, Zelaya, acusado de "traição" pela justiça hondurenha, pode desistir de tentar modificar a Constituição para se candidatar para um segundo mandato.
Eleito no fim de 2005 para um mandato de quatro anos não renovável, este rico empresário que se aliou repentinamente à esquerda foi derrubado do poder quando tentava organizar uma consulta neste sentido, apesar do veto da Suprema Corte.
Na véspera de árduas discussões em San José, Zelaya, apoiado pelas organizações sindicais e indígenas, lembrou o ultimato lançado ao governo interino se ele não for restabelecido rapidamente no poder.
"Estamos muito agradecidos por todos os esforços diplomáticos, mas estou me preparando para voltar a Honduras por via aérea ou terrestre", advertiu.
Líder da esquerda radical na América Latina, o presidente venezuelano Hugo Chávez, um dos raros defensores de uma intervenção militar em Honduras, ameaçou com "uma guerra civil que pode se propagar por toda a América Central".