TEGUCIGALPA - "Não podemos negociar nada", disse o novo presidente de Honduras, Roberto Micheletti, na noite de quarta-feira (1/7), diante da ameaça de o país ser o primeiro expulso da Organização dos Estados Americanos (OEA) desde 1962, quando Cuba foi retirada. "Não podemos chegar a um acordo porque há ordens aqui para capturar o ex-presidente (Manuel) Zelaya por crimes cometidos quando era um oficial", disse Micheletti, em entrevista concedida em seu escritório no quase vazio palácio presidencial, atualmente cercado por vários soldados.
A OEA deu aos líderes que coordenaram o golpe 72 horas para que recoloquem Zelaya na presidência, caso contrário, o país será expulso da organização. "Ele nunca voltará ao poder", disse Micheletti sobre Zelaya. "Ele pode voltar após resolver seus problemas (legais). Ele poderia aspirar ser um político no Congresso ou um prefeito de sua cidade", sugeriu Micheletti.
Zelaya tem conseguido apoio internacional, incluindo condenações de sua retirada do poder pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) e do presidente norte-americano Barack Obama, enquanto, em represália, a ajuda de outros países a Honduras está sendo gradualmente suspensa. Micheletti disse estar preocupado com o povo do país caribenho. "Temos compromissos com nosso país. Não precisamos chegar a acordos com ninguém", afirmou. "Se a comunidade internacional considera que cometemos crimes ou algum erro eles podem nos condenar, é isso".
Como centenas de pessoas foram às ruas em apoio e contra Zelaya, Micheletti considerou que 80% da população concordou com a decisão de removê-lo do poder. "Iremos resolver o problema como podemos, com o povo. Não esqueça que este governo está aqui para seis meses", disse ele, se referindo à cerimônia de posse do novo presidente, em janeiro de 2010, após as eleições de novembro.
Eleito em 2005 para um mandato não renovável de quatro anos, Zelaya entrou em conflito com a Justiça do país, com os militares e políticos ao pedir um referendo para mudar a Constituição. Opositores afirmaram que ele pretendia permitir, assim, que exercesse a presidência por um segundo mandato.
Se Zelaya voltar ao país neste fim de semana, como prometeu, ele será preso, disse Micheletti. Zelaya tinha intenção de voltar a Honduras hoje, mas ontem anunciou o retorno em 72 horas. "Neste país, ninguém pode ficar acima da lei. Ele (Zelaya) cometeu tantas violações que chegamos a esta situação extrema", afirmou. "Todo o Congresso tomou uma decisão e decidiu substituí-lo, este é o motivo pelo qual o processo é chamado 'sucessão constitucional' e eles me escolheram" para substituir Zelaya, completou Micheletti.