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Imprensa conservadora do Irã tenta inocentar autoridades pela morte de Neda

TEERÃ - A imprensa ultraconservadora iraniana tenta nesta quinta-feira (25/6) inocentar as forças de segurança pela morte de Neda Agha Soltan, a jovem que se tornou símbolo dos protestos no país, chegando a acusar um jornalista da BBC de ter contratado um matador para cometer o assassinato. As imagens da morte de Neda em Teerã provocaram comoção e indignação entre os iranianos e a comunidade internacional. A jovem se tornou símbolo da onda de protestos no Irã desde a reeleição do presidente Mahmud Ahmadinejad em 12 de junho. O noivo dela, Caspian Makan, afirmou que Neda não participou nas manifestações e que passava por uma delas quando foi atingida por um tiro disparado por um miliciano. "A investigação mostra que uma pessoa abriu fogo contra várias pessoas na rua Karegar com uma arma de contrabando e uma das balas atingiu Neda Salehi (Agha Soltan) nas costas", afirmam vários jornais, que citam a agência conservadora Fars. Segundo a agência, que menciona uma fonte não identificada, "as forças de segurança apreenderam nas últimas semanas dezenas de armas similares à utilizada, que entraram no Irã ilegalmente, em especial a partir das fronteiras ocidentais". O jornal Vatam Emruz, que respalda Ahmadinejad, vai além e acusa o correspondente da BBC Jon Leyne, que foi expulso do país pelas autoridades, de ter "contratado um criminoso para matar alguém para seu documentário". Vários jornais conservadores publicam acusações similares contra o repórter, como já havia feito na véspera o jornal ultraconservador Javan. "Alguns depoimentos e imagens do vídeo mostram claramente que são provavelmente os basij vestidos como civis os que atiram deliberadamente", declarou na segunda-feira o namorado de Neda ao canal BBC Persian, emissora da rádio e televisão pública britânica. "Algumas testemunhas afirmam que ela foi tomada claramente como alvo e recebeu tiros no peito. Ela morreu em poucos minutos", contou, em uma referência à temida milícia que respalda Ahmadinejad. Um vídeo disponibilizado na internet provocou revolta mundial. As imagens mostram a jovem deitada na calçada, com o rosto repleto de sangue e os olhos abertos. Pelo menos 17 pessoas morreram nos confrontos com as forças de segurança e a milícia basij, segundo a imprensa oficial iraniana, desde 13 de junho.