O regime iraniano acentuou nesta quarta-feira a pressão sobre os partidários do opositor Mir Hossein Moussavi, dando prosseguimento às acusações contra o Ocidente: a CIA americana estaria envolvida nas manifestações contra a reeleição de Mahmoud Ahmadinejad.
O ministro iraniano do Interior, Sadegh Masuli, acusou os Estados Unidos de interferência nos assuntos internos do país e afirmou que os "agitadores" receberam dinheiro da Agência Central de Inteligência (CIA) dos Estados Unidos e da oposição no exílio.
"Vários agitadores têm vínculos com os Estados Unidos, a CIA e os Monafeghin (como são chamados os Mujahedines do Povo, principal grupo da oposição armada iraniana) e receberam ajuda financeira destes", declarou Mahsuli.
Nas ruas, segundo várias testemunhas, a presença policial parece ainda mais reforçada e centenas de pessoas que visivelmente tinham a intenção de protestar, nas imediações do Parlamento de Teerã, desistiram, contentando-se em caminhar pelas calçadas.
Durante o dia corriam rumores sobre uma manifestação às 16H00 (11H30 GMT).
Desde segunda-feira não vinham sendo realizadas passeatas na capital iraniana.
O guia supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, declarou nesta quarta-feira que o governo não cederá às manifestações contra a reeleição do presidente Mahmud Ahmadinejad, em um momento de crescente tensão com os países ocidentais que condenaram a repressão dos protestos.
"Nos recentes incidentes que envolvem a eleição, eu venho insistindo na aplicação da lei e continuarei insistindo. Nem o sistema, nem o povo vão ceder à força", declarou o aiatolá Khamenei.
Desde a reeleição do presidente Ahmadinejad em 12 de junho, o Irã é cenário de uma onda de manifestações de protesto sem precedentes desde a revolução de 1979, que deixaram pelo menos 17 mortos, de 100 feridos e centenas de presos.
Khamenei, maior autoridade da República Islâmica, já havia defendido semana passada a legitimidade da reeleição de Ahmadinejad e exigido o fim dos protestos, liderados pelo candidato reformista e ex-primeiro-ministro Mir Hossein Moussavi.
O ministro iraniano das Relações Exteriores, Manuchehr Mottaki, declarou que Teerã cogita reduzir o nível das relações com a Grã-Bretanha, acusada de interferência na crise política.
O governo britânico anunciou na terça-feira a expulsão de dois diplomatas iranianos, em represália por uma medida similar contra dois membros da representação de Londres em Teerã.
Vinte e cinco jornalistas e funcionários do jornal Kalemeh Sabz, criado por Moussavi para sua campanha e proibido um dia depois da eleição, foram presos no início da semana.
"Há cinco ou seis funcionários administrativos e os demais são jornalistas. Foram detidos na segunda-feira", afirmou Alireza Beheshti, que trabalha na redação do jornal.
"Os agentes que vieram ao jornal não apresentaram nenhuma ordem", completou.
Beheshti informou que entre os detidos estavam cinco mulheres, que foram colocadas em liberdade na terça-feira à noite.
Zahra Rahnavard, esposa de Moussavi, pediu a libertação das pessoas detidas nos últimos dias.
"Lamento que uma grande quantidade de membros da elite política e de pessoas tenham sido detidas e peço sua libertação", declarou Rahnavard.
"Não fui detida. Continuo meu trabalho na universidade, mas ao mesmo tempo, ao lado do povo, protesto contra os resultados oficiais da eleição".
"O nacionalismo e o sangue dos mártires exige que esteja presente, sem deixar de protestar contra o resultado das eleições, e que defenda dentro da lei o direito do povo", completou.
Os últimos protestos no país aconteceram na segunda-feira.
Outro candidato à presidência, o conservador Mohsen Rezaie, ex-chefe da Guarda Revolucionária, o exército ideológico do regime, decidiu retirar sua denúncia por irregularidades, num duro golpe na estratégia da oposição.
Rezai justifica, em uma carta ao Conselho dos Guardiães, a decisão pelo fato da "situação política, de segurança e social do país ter entrado em uma fase sensível e determinante, que é mais importante que as eleições".
O candidato criticou o pouco tempo para análise das queixas, apesar de na terça-feira o Conselho dos Guardiães da Constituição ter anunciado que havia conseguido com o guia supremo do país um prazo adicional de cinco dias, que termina na próxima segunda-feira, apara anunciar sua decisão.
Além disso, o governo do Irã decidiu não participar na reunião de chanceleres do G8 que começa quinta-feira em Trieste (Itália) para discutir a estabilização do Afeganistão, mas que sem dúvidas abordará a situação na República Islâmica.