LONDRES - Ex-detentos da prisão de Bagram, a mais importante base militar americana no Afeganistão, denunciaram ter sofrido inúmeros abusos, segundo uma investigação publicada nesta quarta-feira (24/6). Detidos em Bagram entre 2002 e 2008, estes ex-presos contaram que foram espancados, privados de sono e ameaçados com cães.
Os ex-presos eram suspeitos de pertencer à Al-Qaeda e aos talibãs, ou apoiá-los. Apesar de jamais terem sido formalmente indiciados, ou julgados, foram privados de sua liberdade, segundo a BBC. O Pentágono negou as acusações e garantiu que todos os presos de Bagram foram tratados de forma humana.
Apenas dois deles afirmaram que foram bem tratados na prisão de Bagram. Todos os demais denunciaram maus-tratos físicos, o recurso pelos militares a "posições de estresse", torturas psicológicas e humilhações públicas. Quatro disseram ter sido ameaçados com uma arma de fogo. "Eles faziam coisas que vocês não fariam com animais, muito menos com seres humanos", declarou um destes ex-prisioneiros, identificado como Doutor Khandan.
"Despejavam água gelada na gente no inverno e água quente no verão. Utilizavam cachorros. Apontavam uma pistola ou uma arma na nossa cabeça e nos ameaçavam de morte", prosseguiu.
Indagado sobre as denúncias, o tenente-coronel Mark Wright, porta-voz do Pentágono, garantiu que as condições de detenção em Bagram são coerentes com os "critérios internacionais" e que os prisioneiros são tratados de forma humana. "Houve casos, devidamente registrados, em que essa política não foi respeitada, e os militares envolvidos foram responsabilizados", destacou.
Para a organização de defesa dos direios humanos Anistia Internacional (AI), os depoimentos colhidos pela BBC "vêm no momento certo para lembrar a necessidade constante de proteger totalmente os direitos humanos das pessoas detidas pelos Estados Unidos no Afeganistão".
Cerca de 600 pessoas permanecem detidas na prisão de Bagram, segundo o Pentágono.
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, ordenou a proibição da tortura e o fechamento da prisão de Guantánamo, em Cuba, mas se recusou a voltar atrás na política do governo de George W. Bush para os detentos de Bagram.
Ao contrário dos prisioneiros de Guantánamo, os de Bagram não têm direito a um advogados e não são autorizados a contestar sua detenção.