O grupo BRIC, que reúne quatro gigantes emergentes (Brasil, Rússia, Índia e China), celebrará na próxima semana, no dia 16 de junho, sua primeira cúpula na cidade russa de Ekaterinburgo (leste), tentando conseguir um maior protagonismo mundial e mostrar unidade ante as grandes potências.
Embora os quatro países estejam determinados a agir juntos durante a crise econômica e nos próximos anos, ainda estão longe de contrapor a instituições globais já estabelecidas.
Tampouco está claro se o presidente russo, Dimitri Medvedev, seus colegas brasileiros e chinês, Luiz Inacio Lula da Silva e Hu Jintao, assim como o primeiro-ministro indiano, Manmohan Singh, conseguirão pôr-se de acordo para criar uma entidade internacional mais permanente.
A primeira cúpula dos BRIC se celebrará em Ekaterinburgo, cidade a 1.420 km a leste de Moscou, nos Urais.
"A Rússia acredita que este formato é mais promissor tanto econômica quanto politicamente", declarou à imprensa Natalia Timakova, porta-voz de Medvedev, embora tenha se mostrado muito mais prudente na hora de falar dos envolvimentos da cúpula.
"É muito cedo para fazer previsões", comentou a porta-voz.
Andrei Nesterenko, porta-voz do Ministério russo das Relações Exteriores, adiantou à imprensa que os quatro líderes vão assinar uma declaração que pedirá "a formação de uma orden mundial mais justa e mais democrática".
Nesterenko também tentou pôr fim à polêmica sobre se a cúpula teria como objetivo desdenhar o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. "Não será feita nenhuma recriminação a ninguém", afirmou o porta-voz.
Segundo os analistas, o grupo BRIC está mostrando uma crescente vontade de coordenar esforços, contra-arrestando o domínio mundial dos Estados Unidos, para conseguir maior projeção internacional.
Os quatro países poderiam converter-se nos principais compradores dos primeiros bônus que o Fundo Monetário Internacional (FMI) está preparando para emitir, a fim de cumprir com a obrigação dos países ricos e em desenvolvimento de repassar 1,1 trilhão de dólares ao FMI e outras instituições para ajudar as nações mais pobres.
A China adiantou que está planejando comprar até 50 bilhões de dólares em bônus, enquanto Rússia e China poderiam comprar cada um obrigações de 10 bilhões de dólares.
Durante a semana, o Fundo Monetário Internacional (FMI) saudou a "liderança" e o "compromisso" demonstrados pelo Brasil, que emprestará 10 bilhões de dólares ao organismo multilateral, informou nesta quarta-feira seu diretor-gerente, Dominique Strauss-Kahn.
"O Brasil demonstra mais uma vez a firmeza de seu papel como destacada economia emergente", afirmou Strauss-Kahn, citado num comunicado do FMI.
O empréstimo será efetuado através da aquisição de bônus do organismo, anunciou nesta quarta-feira o ministro da Fazenda, Guido Mantega.
O compromisso de contribuir com o capital do FMI foi adotado em janeiro durante a reunião de cúpula do Grupo dos 20 países industrializados e emergentes em Londres, no auge da crise financeira mundial.
Nos últimos meses, tanto a Rússia como a China elevaram suas críticas ao sistema monetário internacional dominado pelo dólar e pediram reformas das instituições financeiras internacionais e o estabelecimento de uma nova moeda de reserva mundial para evitar uma nova crise.
Para Rory MacFarquhar, economista do banco americano Goldman Sachs, a cúpula será mais política que econômica.
"Existe um interesse considerável, da parte de todos os países do BRIC, mas da Rússia em particular, de criar uma alternativa" às instituições internacionais já existentes", declarou o analista à AFP.
Vladimir Osakovski, do banco italiano UniCredit em Moscou, compartilha a mesma opinião. A ideia de uma nova moeda de reserva é mais uma forma de fazer muito barulho politicamente que "um primeiro passo para a criação de um novo instrumento de política econômica mundial", destacou.
Essa perspectiva necessitaria muitos anos para ser concretizada, advertiram os analistas. Antes de consegui-lo, o grupo BRIC terá que fazer uma fusão de suas economias, renunciar às próprias moedas e ao controle de sua política monetária, explicou Osakovski.