MADRI - O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, cometeu um equívoco na quinta-feira no Cairo, ao situar na mesma época a tolerância entre as religiões na Espanha sob dominação muçulmana e a Inquisição católica.
"O Islã tem uma tradição de tolerância. Vemos isso na história da Andaluzia e de Córdoba durante a Inquisição", declarou Obama, ao defender a instauração de uma nova era entre os Estados Unidos e o mundo muçulmano. "Esta colocação demonstra um desconhecimento total da história da península ibérica", comentou o jornal conservador espanhol ABC.
O presidente americano se referia à ocupação muçulmana de grande parte da península ibérica entre os anos 711 e 1492, em um período da história conhecido como 'Al Andalus'. Naquela época, nos séculos X e XI, muçulmanos, judeus e cristãos viviam juntos pacificamente no Califado de Córdoba.
A Inquisição católica na Espanha só começou em 1242, e a perseguição aos "hereges" teve lugar apenas, até a reconquista definitiva da Espanha em 1492 com a queda de Granada, nos territórios controlados pelos reis católicos.
E a maioria dos historiadores considera que a Inquisição somente se tornou uma ferramenta com vocação repressiva ao serviço da monarquia a partir de 1478, ano em que foi refundada pelos reis católicos.
Foi, portanto, muito após o apogeu político, científico e cultural do Califado de Córdoba que os judeus foram expulsos da Espanha e os muçulmanos convertidos à força ao cristianismo.
O jornal espanhol El Mundo, de centro-direita, não deixou de destacar "o anacronismo de Obama sobre Córdoba e a Inquisição", mas também ressaltou que "a referência feita pelo presidente americano ao passado de tolerância de Al Andalus é totalmente justificada", mesmo que esta época não tenha sido isenta de perseguições.
"O Califado de Córdoba foi marcado por uma grande tolerância religiosa e política. Os cientistas de diversas raças e religiões colaboraram estreitamente", observou o historiador espanhol Juan Vernet em um livro intitulado "O que a Europa deve ao Islã da Espanha".
Estes anos dourados do Islã foram durante muito tempo considerados uma referência absoluta por todo o mundo muçulmano.