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No Cairo, Obama defende 'novo começo' com mundo árabe

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O presidente americano, Barack Obama, defendeu nesta quinta-feira no Cairo um "novo começo" nas relações entre Estados Unidos e o mundo árabe, antes de viajar para Alemanha e França, onde se unirá às celebrações do fim da Segunda Guerra Mundial. "O ciclo de desconfiança e discórdia deve acabar", afirmou Obama na Universidade do Cairo, diante de uma platéia de 3.000 pessoas. Obama deixou o Cairo por volta das 18H30 horário local (15H30 GMT) rumo a Dresden, na Alemanha, onde aterrissou pouco menos de quatro horas depois, levando com ele a boa recepção de suas palavras na maior parte do mundo. "Vim em busca de um novo começo entre os Estados Unidos e os muçulmanos, um começo baseado no interesse e no respeito mútuos, um começo baseado nesta verdade de que os Estados Unidos e o islã não se excluem", destacou Obama, num discurso dirigido aos 1,5 milhão de muçulmanos do mundo inteiro, cujo objetivo é pôr fim à era de seu predecessor, George W. Bush. "Enquanto nossas relações forem definidas por nossas diferenças, daremos o poder aos que semeiam o ódio antes da paz, aos que promovem o conflito ao invés da cooperação", apontou. A guerra do Iraque, o escândalo da prisão de Abu Ghraib, a prisão na base militar americana de Guantánamo e a prioridade dada à luta contra o terror estabelecida por Bush após os atentados de 11 de setembro de 2001 selaram um tempo de discórdia entre ocidentais e muçulmanos. Mas Obama ressaltou que o mundo muçulmano também deve lutar contra os "preconceitos" anti-americanos, referindo-se também a alguns assuntos delicados em matéria de direitos humanos, como o papel da mulher na sociedade e o livre arbítrio nas sociedades árabes. Sobre o conflito israelo-palestino, Obama indicou que "a única solução para as aspirações de ambas as partes deve ser os dois Estados, onde israelenses e palestinos poderão viver em paz e segurança". O presidente americano criticou aqueles que negam a existência do Holocausto nazista, e frisou o "vínculo inquebrantável" entre Estados Unidos e Israel. No entanto, pediu o fim da colonização judaica na Cisjordânia. Israel reagiu ao discurso de Obama afirmando que esperava uma reconciliação com o mundo árabe muçulmano, ao mesmo tempo em que insistiu na necessidade de garantir sua segurança. A Autoridade Palestina aplaudiu o discurso, que afirmou ser "um bom começo" e uma ruptura em relação à administração Bush. O grupo radical islâmico Hamas, considerado uma organização terrorista por Washington, declarou, por sua vez, que percebeu "uma mudança tangível" no discurso de Obama para o mundo árabe, mas também "contradições". De Beirute, o grupo radical xiita Hezbollah indicou que o discurso não apresentou nenhuma "mudança real" na política americana em relação ao mundo muçulmano, como disse à AFP o deputado Hassan Fadlallah. Na Europa, o chefe da diplomacia europeia, Javier Solana, estimou que o discurso de Obama "abre uma nova página nas relações com o mundo árabe-muçulmano". O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, "recebeu calorosamente esta mensagem de paz, de compreensão, e de reconciliação", segundo um comunicado emitido por sua assessoria de imprensa. O presidente americano defendeu claramente a política de seu país e de seus aliados no Afeganistão. Sobre a guerra no Iraque, fez uma espécie de autocrítica, prometendo que os Estados Unidos estarão abertos à diplomacia e ao multilateralismo.