"Ele fala muito, agora vamos ver se ele faz o que disse", afirmou Sami, um policial egípcio que, como muitos no Oriente Médio, apreciou o discurso de Barack Obama aos muçulmanos mas considerou que existe uma grande diferença entre o discurso e a ação.
O longo discurso (50 minutos) foi transmitido nesta quinta-feira, segundo uma contagem da AFP, por mais de 30 TVs da região, dentre as quais a Al-Manar, rede do Hezbollah libanês.
Este, considerado por Washington como um movimento "terrorista", foi um dos raros atores regionais a reagir negativamente, em declarações do deputado Hassan Fadlallah. Ele considerou que o discurso do Cairo não indicava "mudanças reais" na política americana, mencionando a expressão "vazio de sentido".
Anteriormente, Nabil Abu Rudeina, porta-voz do presidente palestino Mahmud Abbas, havia classificado o discurso de "passo político inovador" em relação à "precedente política parcial americana" em favor de Israel.
O Hamas, que controla Gaza, também indicou "uma mudança tangível", mas apontou "contradições".
"Ele disse que o Hamas era apoiado pelo povo palestino, mas não referiu-se à legitimidade do Hamas, que foi democraticamente eleito", afirmou à AFP o porta-voz do movimento islâmico, Fawzi Barhum.
Ele também criticou o silêncio em relação ao "holocausto que a ocupação israelense causou" em Gaza, onde mais de 1.400 palestinos foram mortos na ofensiva israelense de dezembro/janeiro.
O presidente da Liga Árabe, Amr Mussa, saudou um discurso "equilibrado".
Para a Jordânia, o discurso "abre caminho para uma nova fase nas relações dos Estados Unidos com o mundo árabe-muçulmano".
A Síria disse que espera de Washington "mais seriedade" no processo de paz e "pressões concretas sobre Israel", segundo Elias Mrad, chefe de redação do jornal oficial Al-Baas.
No Egito, o ex-chefe da Jihad Islâmica, Kamal Habib, classificou o pronunciamento de "histórico".
Em um restaurante popular de Dubai, onde o evento foi exibido pela TV, Sanaa Abdallah, uma palestina, considerou que o Ocidente continua a falar "como os professores primários: 'faça isto e não faça aquilo'".
Hassan Abed, gerente de um cibercafé do centro de Bagdá, saudou um presidente americano "que não gerou divisão".
O líder radical xiita Moqtada al-Sadr afirmou, por sua vez, que não acredita na sinceridade do anfitrião da Casa Branca.
O discurso é "o mais equilibrado de um presidente americano em muito tempo", comemorou Karim Makdisi, professor de Ciências Políticas de Beirute. Mas, advertiu, "veremos o que vai acontecer efetivamente".
Para Hiba Sahyuni, um cristão casado com uma muçulmana, "não é suficiente dizer que a colonização (israelense) deve ser interrompida. Ele não tem ideia do nível de frustração dos muçulmanos".
Israel, que atravessa um momento delicado em sua relação privilegiada com Washington, quis apresentar uma atitude positiva, desejando uma reconciliação com o mundo árabe-muçulmano. Mas o Estado hebreu alertou que sua segurança é prioritária.
Sem surpreender, a direita israelense criticou as declarações do presidente Obama sobre a interrupção da colonização na Cisjordânia.