Jornal Correio Braziliense

Mundo

Obama prega 'novo início' nas relações com muçulmanos

;

CAIRO - O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, discursou nesta quinta-feira (4/6) por um "novo início" nas relações entre islâmicos e seu país. Obama fez no Egito um discurso voltado ao mundo muçulmano, no qual pediu uma era de paz, após anos de "suspeita e discórdia". No que pode ser um momento decisivo de sua gestão, Obama falou sobre mudanças na política norte-americana para o Oriente Médio, com a intenção de evitar a desconfiança mútua, defendendo a criação de um Estado palestino. Ele disse ainda que o Irã tem o direito de utilizar energia nuclear para fins pacíficos, de acordo com os tratados internacionais. Na Universidade do Cairo, Obama ressaltou a aliança entre os EUA e Israel, incontornável segundo ele, e rejeitou como "ignorantes" os que negam o Holocausto. Porém, em uma ruptura clara com seu antecessor, George W. Bush, Obama também criticou a recusa do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, em parar de expandir os assentamentos judaicos na Cisjordânia. Os palestinos são contrários a essa expansão pois querem as terras como parte de seu futuro Estado independente. "Eu vim ao Cairo para buscar um novo início entre os EUA e os muçulmanos pelo mundo", afirmou Obama, aos 1,5 bilhão de seguidos dessa religião no mundo. "Enquanto nossa relação é definida por nossas diferenças, nós daremos poder àqueles que semeiam o ódio, e não a paz", disse Obama, recebido no auditório com uma salva de palmas, por uma plateia de pé. "Esse ciclo de suspeita e discórdia deve acabar", afirmou ele, se dizendo disposto a enfrentar os "estereótipos negativos" do Islã. "Porém o mesmo princípio deve se aplicar às percepções dos muçulmanos sobre a América." Citando os três livros sagrados da região, o Alcorão, a Torá e a Bíblia, o presidente dos EUA pediu um futuro de "interesse mútuo e respeito mútuo". Aos jovens muçulmanos, Obama admitiu que há dificuldades para a aproximação, mas se mostrou esperançoso. "Há muito a temer, muita desconfiança. Porém, se nós escolhermos ser guiados pelo passado, nunca avançaremos." Obama pediu a israelenses e palestinos que retomem as paralisadas conversas de paz. Ele exigiu o fim da violência por parte dos palestinos e, aos israelenses, que diminuam o sofrimentos dos isolados nos territórios ocupados. "A América não virará suas costas à legítima aspiração dos palestinos por dignidade, oportunidade e um Estado próprio", afirmou. "Os israelenses precisam reconhecer que, como o direito de Israel existir não pode ser negado, o dos palestinos também não pode." Obama ressaltou que os EUA "não aceitam a legitimidade de contínuos assentamentos israelenses". "Essa construção viola acordos prévios e prejudica os esforços para se chegar à paz. É a hora desses assentamentos pararem", disse o mandatário norte-americano. Irã O presidente dos EUA também renovou sua oferta de diálogo com os iranianos. "Será difícil superar décadas de desconfiança, porém, procederemos com coragem, retidão e decisão", afirmou. "Mas está claro para todos que, em relação a armas nucleares, nós chegamos a um ponto crucial", disse Obama. "Não é simplesmente sobre os interesses da América. É sobre evitar uma corrida de armas nucleares no Oriente Médio, que poderia levar essa região e o mundo para um caminho bastante perigoso." Washington rompeu sua relação com o Irã em 1979, ano da Revolução Iraniana e da invasão à embaixada norte-americana em Teerã. Em março, Obama enviou um vídeo aos iranianos propondo um novo início nas relações bilaterais. O principal ponto de discórdia dos países atualmente é o programa nuclear iraniano. Os EUA suspeitam que o país tenha a intenção de produzir armas nucleares. Já o governo iraniano diz ter apenas fins pacíficos, como a produção de energia. Obama também lembrou sua própria biografia, com parentes muçulmanos no Quênia, de seus vários anos crescendo na Indonésia, um país muçulmano, e de sua busca pessoal por um novo padrão para a relação entre EUA e países muçulmanos. Ele advertiu que os EUA "nunca tolerarão" a violência extremista, citando os atentados de 11 de setembro de 2001. Porém, admitiu que o país seguiu um caminho errado com suas duras táticas para combater o terrorismo. "O quanto antes os extremistas estejam isolados e malvistos nas comunidades muçulmanas, o mais rápido estaremos todos mais seguros", afirmou. Obama também propôs uma série de iniciativas para promover saúde, educação e investimento em comunidades muçulmanas.