Israel está preocupado com o esperado discurso que o presidente americano, Barack Obama, fará amanhã (quinta-feira) no Cairo, cujo objetivo será iniciar uma reconciliação com os países muçulmanos, num momento em que as relações entre os Estados Unidos e seu aliado histórico no Oriente Médio passam por turbulências.
As autoridades israelenses temem que esta aproximação entre o presidente americano e o mundo árabe afete o relacionamento privilegiado que se estabeleceu ao longo dos anos entre Washington e o Estado judaico.
"O presidente americano tem o direito de tentar se reconciliar com o mundo muçulmano e tentar competir com a Al-Qaeda e o Irã para conquistar seu coração. De nossa parte, devemos nos certificar de que isso não afetará nossos interesses comuns", declarou no rádio o ministro dos Transportes, Israel Katz.
Apesar de garantir que a atitude de Obama é "amistosa com Israel", Katz, considerado um dos mais próximos colaboradores do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, admitiu que o presidente americano tem "um ponto de vista diferente" do de George W. Bush.
"(Obama) envia outras mensagens ao mundo árabe e aos muçulmanos, é outra realidade", acrescentou.
As declarações de Katz ilustram o momento de tensão nas relações entre Israel e Estados Unidos, que se instalou depois que Netanyahu se negou a aceitar a solução de dois Estados proposta por Obama durante sua visita a Washington, além de se negar a congelar totalmente a colonização judaica na Cisjordânia, como quer Obama.
"Existe uma cooperação intensa entre Israel e os Estados Unidos, mas as discordâncias se agravaram recentemente", indicou Katz, voltando a criticar as pressões do presidente Obama para impor o fim das colônias.
"O atual governo não vai congelar o crescimento natural da população nas colônias da Judéia-Samária (Cisjordânia) e de Jerusalém, não há nenhum tipo de indecisão a este respeito", ressaltou.
O ministro, no entanto, destacou que o primeiro-ministro não exclui "demonstrar uma certa flexibilidade".
Mas o presidente americano excluiu, pelo menos neste momento, assumir qualquer compromisso acerca deste tema.
Citando autoridades israelenses, o jornal Haaretz publicou que Obama pretende dar a Netanyahu um prazo de quatro a seis semanas a partir de seu discurso do Cairo para, em primeiro lugar, "atualizar" suas posições sobre a criação de um Estado palestino e os assentamentos, e, em segundo lugar, apresentar ao emissário especial americano George Mitchell um plano de ação para retomar as negociações com os palestinos dentros dos próximos seis meses.
Convocados por organizações de extrema-direita, cerca de 200 israelenses radicais se manifestaram nesta quarta-feira em frente ao consulado americano em Jerusalém Ocidental, acusando o governo Obama de "antissemita" e de colocar em risco a segurança de Israel.
A rádio do exército israelense, por sua vez, lamentou que o presidente não tenha incluído em sua breve passagem pela região uma escala em Israel.