LONDRES - A crise internacional leva governos em dificuldades econômicas a reprimir protestos contra o aumento da pobreza e do desemprego, alertou nesta quinta-feira (28/5) a Anistia Internacional. A organização de direitos humanos afirma em seu relatório anual que esses direitos têm sido relegados a um segundo plano diante da crise. Entre os prejudicados, a Anistia aponta os trabalhadores migrantes na China, a população indígena da América Latina e milhões de pessoas por toda a África. Esses grupos estão, segundo a entidade, sendo reprimidos por autoridades no momento em que tentam protestar por melhores condições de vida.
Enquanto a atenção mundial acompanha o colapso de gigantes financeiros, os que estão na base da pirâmide social são as principais vítimas, apontou a secretária-geral da Anistia, Irene Khan, em entrevista. "Há uma espécie de efeito dominó aqui, e aqueles mais vulneráveis, no fim da corrente, estão sentindo o maior impacto", disse. "É muito, muito mais difícil falar sobre mortalidade de mães quando grandes bancos de Wall Street estão falindo".
O relatório anual da Anistia Internacional enfocou o impacto da desaceleração econômica mundial sobre países como a China, onde milhões de trabalhadores migrantes do interior perderam seus postos pela queda nas exportações. As autoridades pressionam a imprensa e continuam a ameaçar com a prisão aqueles que contestam as políticas do governo, informou o documento.
América Latina e África
Na América Latina, a Anistia aponta que a situação "já crítica" de muitos grupos indígenas pode levar a crises maiores. Na África, a entidade alerta para o aumento do custo de vida por todo o continente, além da repressão. Entre os países em que a piora da economia levou a distúrbios ou ataques aos direitos humanos, são citados Mali, Camarões, Tunísia, Somália, Zimbábue e a África do Sul.
A secretária-geral apontou que os congressistas norte-americanos têm enfocado menos os direitos humanos pelo mundo, pois se concentram mais na economia do país. Porém, ela lembrou que a comunidade de direitos humanos ainda vê com esperança as perspectivas da administração do presidente Barack Obama para a área. "Ignorar uma crise em prol de outra não resolverá nenhuma das duas", alertou Irene Khan.