LONDRES - Um grupo de legisladores britânicos pediu nesta segunda-feira (18/5) a renúncia do presidente da Câmara dos Comuns por causa da forma como ele tem tratado a questão dos pedidos de reembolso pelos parlamentares. É a primeira vez que a saída do presidente da Câmara é pedida em mais de 300 anos. Quinze legisladores pediram que Michael Martin deixe o cargo, num momento em que o escândalo sobre o uso do dinheiro dos contribuintes continua a aumentar.
Novas informações divulgadas mostram que alguns legisladores usaram dinheiro público para pagar hipotecas, comprar de mobília de luxo e para manutenção de quadras de tênis. As revelações fizeram aumentar a desconfiança nos políticos e irritaram a população.
Jornais britânicos informaram que os principais doadores do Partido Trabalhista, que está no governo, ameaçaram interromper suas contribuições, o que pode limitar os recursos que o partido, já profundamente endividado, poderá gastar numa possível eleição nacional em 2010. Martin, que é membro do Partido Trabalhista, foi eleito por seus colegas em 2000. Ele tem sido criticado por ignorar as advertências de que o sistema de reembolso precisava ser alterado e por tentar impedir a publicação dos dados sobre os gastos dos parlamentares.
Ele não é popular entre os legisladores de oposição, que o acusam de ser tendencioso num cargo que é visto como independente. Muitos ficaram irritados em novembro, quando Martin permitiu que a polícia entrasse nos escritórios dos legisladores, desafiando uma tradição centenária que impede a polícia de entrar no Parlamento sem a permissão de seus ocupantes. O legislador conservador Douglas Carswell e outros 14 colegas, pertencentes aos três principais partidos do país, pediram a saída de Martin. Carswell disse que sua moção poderia dar início a um debate formal na Câmara dos Comuns sobre o futuro do presidente da Casa.
Caso perca o cargo, Martin será o primeiro presidente da câmara a ser deposto desde 1695, quando John Trevor foi demitido por ter aceitado suborno. O presidente mantém a ordem durante os debates, decide que legislador vai falar e representa a Câmara em discussões com a Rainha Elizabeth e com a Câmara dos Lordes. Ele pode suspender uma sessão por causa de desordem, suspender um legislador que desrespeitar as regras e ordenar que um colega retire observações consideradas abusivas.
Martin já foi criticado por suas próprias despesas, dentre elas o uso de dinheiro do contribuinte para pagar corridas de táxi feitas por sua mulher durante suas compras. "É evidente agora para todos que o presidente não é o homem para este trabalho", disse o legislador Roger Williams, do Partido Liberal Democrata. Martin pretende fazer um discurso para seus colegas ainda hoje.