O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, chegou ontem à noite a Buenos Aires e hoje se reúne pela manhã com a colega Cristina Kirchner, em mais um dos encontros bilaterais que os dois realizam a cada três meses. Desta vez, o tema principal será, oficialmente, ;a construção de matadouros e frigoríficos com tecnologia argentina;, no âmbito de um convênio assinado em 2006. Chávez quer ;dar peso e fortaleza às relações estratégicas entre as duas nações;, mas pelo lado argentino a visita coincide com um momento chave na campanha para a eleição legislativa de junho, que definirá em boa medida as condições nas quais Cristina governará nos próximos anos ; não por acaso, seu marido, o ex-presidente Néstor Kirchner, é quem encabeça a lista governista.
Depois da reunião entre os presidentes, haverá um encontro de trabalho entre os chanceleres Jorge Taiana, da Argentina, e Nicolás Maduro, da Venezuela, além de técnicos dos países. O ministro venezuelano de Agricultura e Terras, Elías Jaua, disse ontem que espera receber capacitação técnica dos argentinos para desenvolver a agroindústria venezuelana e incrementar as exportações de produtos tradicionais do país, como cacau e café, e até mesmo explorar outras possibilidades. ;(Girassol e soja) são produtos que têm um importante consumo na Argentina, mas eles não podem produzi-los o ano todo. Estamos trabalhando para ter excedentes na Venezuela e exportá-los para a Argentina e outros países;, afirmou Jaua. Já o ministro para Energia e Petróleo, Rafael Ramírez, informou que será assinado um memorando de entendimento prevendo a criação de uma empresa mista para fabricar conversores de gás natural para veículos na Venezuela. Ambos os países esperam contar com a participação do Brasil na iniciativa.
Eleições
A oposição argentina aproveita o momento de campanha eleitoral para lembrar o ;escândalo da maleta;, ocorrido quando Cristina disputava a presidência: Chávez teria enviado uma fortuna para a campanha da ex-primeira-dama, por meio do empresário venezuelano Guido Antonini. Ele foi detido com uma maleta contendo US$ 800 milhões, e o caso ainda está sendo investigado pela promotoria venezuelana. O governo argentino tentou tomar certa distância de Chávez, e Néstor Kirchner até mandou uma indireta depois do fechamento de um canal venezuelano. Mas, ao mesmo tempo, revelou-se ;muito agradecido com a Venezuela; pela ajuda financeira e energética.
O ex-presidente, candidato a deputado pelo Partido Justicialista, declarou que defenderá no Congresso as políticas do governo da mulher e sucessora. Em entrevista à emissora argentina Radio 10, classificou como ;absurda; a ideia de que Cristina possa renunciar caso o oficialismo saia derrotado. ;Não sou porta-voz da presidenta, mas posso dizer com total tranquilidade que é absurdo pensar que quem tem a responsabilidade de conduzir a Argentina até 2011, e alguém com a vontade e força de Cristina, comece não cumprindo o mandato constitucional;, disse. E arrematou: ;Nossa maior oposição é mediática, certo tipo de imprensa;.
O casal Kirchner deve receber o visitante na casa de campo em Calafate, no sul do país, região onde começaram a vida política. Chávez manifestou a intenção de passar o fim de semana na Argentina.