PESHAWAR - O Exército paquistanês informou nesta terça-feira (12/5) ter enviado helicóptero com soldados a um reduto dos talibãs no Vale do Swat, afirmando ainda que o inimigo está fugindo diante da ofensiva lançada há mais de duas semanas nesta região do noroeste do país. Ao mesmo tempo, a ONU anunciou que o número de refugiados dos combates em 10 dias ultrapassou os 500 mil.
Os testemunhos se multiplicam sobre a resistência dos combatentes islamitas ligados à Al-Qaeda, que utilizam os habitantes como escudos humanos, e sobre a morte de inúmeros civis nos bombardeios do exército. "O Exército enviou tropas a Peochar com a missão de localizar e destruir posições inimigas", anunciou o porta-voz do Exército, general Athar Abbas.
Peochar, nas montanhas do norte do distrito, é um dos principais redutos dos talibãs do Swat. O general Abbas afirmou que os militares mataram 751 talibãs em 17 dias de ofensiva em Swat e seus arredores e que o Exército perdeu apenas 29 soldados. Os talibãs ocuparam há dois anos o Vale do Swat e o Exército nunca conseguiu retirá-los da área por muito tempo.
Estes números são impossíveis de confirmar, porque as zonas de combates estão fechadas pelos militares. A imprensa paquistanesa fala em uma "guerra invisível".
Mas a ONU, que falou em uma "crise humanitária maior", anunciou nesta terça-feira que o fluxo de civis que estão fugindo dos combates nos últimos 10 dias passou de meio milhão.
Em fevereiro, Islamabad assinou um acordo de paz em virtude do qual os talibãs aceitaram um cessar-fogo em troca da instauração, em Swat e seis outros distritos, de tribunais islâmicos. Mas, longe de entregar suas armas, os combatentes islamitas se aproveitaram do cessar-fogo para ampliar sua vantagem no território, assumindo o controle de distritos vizinhos do Baixo Dir e de Buner, a apenas 100 km de Islamabad.
Sob forte pressão de Washington, que considerava o acordo de Swat um abdicação diante dos islamitas, Islamabad lançou em 26 de abril seu Exército na reconquista dos três distritos. "As operações estão indo bem, os talibãs estão fugindo agora", afirmou o general Abbas.
Esta afirmação foi desmentida por testemunhas no local, que mencionam também inúmeras perdas entre os civis. "Os talibãs patrulham pelas ruas de Mingora, o principal lugar do distrito de Swat, que o Exército atacou há uma semana", afirmou Ahmad Ali, 24 anos, que está trancado em casa nesta cidade de 300 mil habitantes. "Não vi nenhum militar durante as 24 horas do cessar-fogo", disse.
Médicos que conseguiram fugir de Mingora declararam que inúmeros civis morreram ou foram feridos, por talibãs ou pelo Exército, que bombardeia sem discriminação, segundo eles.
Nesta terça-feira, da mesma forma, uma nova bateria de mísseis americanos, matou ao menos oito combatentes islamitas perto de Wana, nas zonas tribais paquistaneses da fronteira com o Afeganistão, onde Washington visa regularmente dos quadros da Al-Qaeda, dizendo que a rede Osama Bin Laden reconstituiu suas forças no local. Os islamitas ligados à Al-Qaeda mataram mais de 1.800 pessoas em atentados, a maioria deles suicidas, em todo o país em 18 meses.