AMÃ - O Papa Bento XVI visitou neste sábado (09/05) uma das maiores mesquitas da Jordânia, em Amã, e advertiu para uma manipulação ideológica da religião que, às vezes, pode desencadear a violência.
Mais cedo, o Sumo Pontífice iniciou o dia com pedidos de reconciliação entre cristãos e judeus ao visitar o Monte Nebo, local onde, segundo as Sagradas Escrituras, Moisés viu a Terra Prometida.
O Papa, que fez um discurso diante de líderes religiosos muçulmanos na mesquita Al-Hussein ben Talal, criticou aqueles que afirmam que "a religião é inevitavelmente uma causa de divisão em nosso" e que "pretendem que quanto menos importância se dá à religião melhor".
Bento XVI reconheceu a existência de tensões e divisões entre os membros das distintas tradições religiosas, mas afirmou que "muitas vezes a manipulação ideológica da religião, às vezes com fins políticos, é o verdadeiro catalizador de tensões e de divisões e, às vezes, inclusive de violências na sociedade".
"Esta situação obriga os fiéis a ser coerentes com seus princípios e suas crenças", afirmou o Papa no segundo dia de sua viagem à Terra Santa. O Pontífice iniciou o segundo dia de estadia na Jordânia com uma visita ao monte Nebo, uma montanha de 840 metros que fica 40 km ao sudoeste de Amã.
"Aqui, depois dos passos dos inúmeros peregrinos que nos precederam através dos séculos, estamos estimulados a medir com maior plenitude o dom de nossa fé e a crescer nesta comunhão que transcende toda fronteira de idiomas, raças e culturas", disse o Sumo Pontífice. "A antiga tradição de peregrinação aos locais sagrados nos recorda o vínculo inseparável que une a Igreja ao povo judeu".
"Que este encontro de hoje nos inspire um amor renovado aos escritos do Antigo Testamento e o desejo de superar todos os obstáculos para a reconciliação dos cristãos e os judeus no respeito mútuo e na cooperação a serviço desta paz, como nos pede a palavra de Deus", completou o Papa.
Bento XVI pediu esperança em uma terra marcada por conflitos. "Sabemos que Deus que revelou seu nome a Moisés, como prova de que estaria sempre ao nosso lado, nos daria a força para preservar uma esperança feliz, mesmo em meio aos sofrimentos, desafios e tribulações".
O Sumo Pontífice contemplou no horizonte durante alguns instantes a cidade de Jerusalém, como fez Moisés segundo a Bíblia. "Al salam Alaykum" (Que a paz esteja com vocês), afirmou em árabe no local onde os primeiros cristãos ergueram uma pequena igreja no século IV e onde foram encontrados vestígios de uma basílica e um mosteiro.
Depois de deixar o Monte Nebo e antes de visitar a mesquita, Bento XVI abençoou a pedra fundamental de uma universidade católica de Madaba, cidade jordaniana que tem uma importante comunidade católica.
"A religião, como a ciência e a tecnologia, como a filosofia, pode ser corrupta", alertou o Papa, antes de afirmar que "a religião se vê desfigurada quando é colocada a serviço da ignorância e do preconceito, do desprezo, da violência e dos abusos".
"Nestes casos, não constatamos apenas uma perversão da religião, mas também uma corrupção da liberdade humana, a estreiteza e a cegueira do espírito".
As palavras têm um significado particular no momentos em que os muçulmanos radicais jordanianos lembram a polêmica provocada pelas declarações do Papa em uma universidade da Alemanha em 2006, quando teria vinculado a violência ao Islã.
"Esta perversão da religião não é inevitável", destacou o Papa, para quem promover a educação é expressar a "confiança no dom da liberdade".