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Gripe suína: cresce o risco de pandemia

Organização Mundial de Saúde eleva nível de alerta sobre disseminação da doença de 3 para 4 e admite que nenhuma região do Planeta está a salvo. Vírus H1N1 chega à Europa

;Uma pandemia não é considerada inevitável a esta altura. A situação é fluida e continua a evoluir.; As declarações de Keiji Fukuda, diretor-geral-assistente interino da Organização Mundial de Saúde (OMS), dão uma mostra da dimensão da gripe suína. Segundo ele, nenhuma região do planeta está a salvo. ;Em uma época em que as pessoas viajam de avião por todo o mundo, não há qualquer região onde o vírus não possa se expandir;, acrescentou. A doença já matou 149 pessoas no México e atingiu ontem pela primeira vez a Europa: Espanha e Reino Unido confirmaram três casos. Pelo menos 1.600 mexicanos foram infectados pelo vírus H1N1 e cerca de 400 ainda estão hospitalizados. Diante da rápida evolução do mal, especialistas da OMS se reuniram em caráter emergencial e elevaram o nível de alerta de pandemia (doença epidêmica amplamente difundida) da fase 3 para a 4 ; duas a menos que a máxima fase da escala (6) e um indicativo de que o microorganismo tem potencial significativo de transmissão entre humanos. Fukuda admitiu que a mudança da escala de alerta é ;um passo significativo na direção de uma pandemia;. O que torna o vírus H1N1 ainda mais assustador é o fato de ele possuir componentes de vírus clássicos de gripe aviária, humana e suína, e de jamais ter sido visto em porcos. A ministra da Saúde da Espanha, Trinidad Jiménezes, revelou que um rapaz de 23 anos que retornou de uma viagem de estudos ao México na última quarta-feira testou positivo para o H1N1 em um hospital de Almansa, no sul do país. De acordo com o jornal El Mundo, as autoridades sanitárias aguardam os resultados dos exames de secreção do trato respiratório em 26 pessoas isoladas, sob suspeita de terem contraído o vírus, moradores de 13 regiões. Por sua vez, o Reino Unido anunciou a contaminação em dois escoceses que retornavam de férias no México. ;Eu quero reiterar que a ameaça ao público permanece baixa;, afirmou Nicola Sturgeon, secretária de Saúde da Escócia, à emissora britânica BBC. Ela explicou que 14 britânicos com sintomas de gripe foram examinados e devem saber se são portadores nas próximas horas. Como precaução, o comissário de saúde da União Europeia, Androulla Vassiliou, recomendou ;evitar viagens não essenciais às áreas afetadas, para evitar o potencial risco de disseminar infecção para outras doenças;. Na noite de ontem, o Departamento de Estado norte-americano também ;advertiu os cidadãos sobre os perigos de se viajar ao México neste momento;. A Cruz Vermelha criou uma comissão especial para se preparar para o caso de a epidemia afetar outros países da América Central. » Áudio: ouça entrevista com o médico André Lomar, presidente da Comissão Científica do XIV Congresso Panamericano de Infectologia
A escala do perigo Fases de alerta pandêmico criado pela Organização Mundial de Saúde FASE 1 Não há registros de nenhum vírus de gripe circulando entre animais que cause infecções em humanos FASE 2 Sabe-se que um vírus de gripe animal causou infecção em humanos e, portanto, é uma ameaça pandêmica potencial FASE 3 Vírus de gripe animal ou humano-animal causa casos esporádicos ou grupo de casos em pessoas, mas não há transmissão entre humanos, exceto em circunstâncias específicas FASE 4* Transmissões significativas entre humanos capazes de provocar surtos em comunidades. A capacidade de causar surtos significativios em comunidades marca ;aumento significativo no risco de pandemia; FASE 5 Infecção humana em larga escala. O mesmo vírus causa surtos significativos em comunidades em dois ou mais países em uma região. Enquanto a maioria dos países não será afetada por este nível, a declaração da fase 5 é um sinal forte de que uma pandemia é iminente FASE 6 O vírus causa surtos significativos em comunidades em mais de uma região. Pandemia global a caminho *Fase atual do surto
Entrevista - Masato Tashiro ;Infecção é inevitável; Diretor do Centro de Colaboração para Referência e Pesquisa em Influenza da Organização Mundial de Saúde (OMS), o japonês Masato Tashiro disse ao Correio que a ameaça representada pelo H1N1 é muito grave. A gripe suína poderia matar milhares de pessoas em todo o mundo? Sim. O vírus tem sido transmitido entre pessoas do México, Estados Unidos, Canadá, Reino Unido e Espanha. Esperamos que o H1N1 se espalhe para outros países. Trata-se de um vírus novo e, por isso, a maior parte da população mundial não possui imunidade. Ainda que o subtipo do H1N1 seja o mesmo do influenza sazonal (subtipo russo), sua antigenicidade é bem diferente. O que torna esse microorganismo imprevisível? O H1N1 é um híbrido com quatro vírus diferentes. Apesar de a principal antigenicidade ser similar à dos clássicos vírus da gripe suína, a natureza de replicação e outras características são diferentes em algum aspecto. Provavelmente será difícil encontrar pacientes com este vírus em influenza sazonal. De que modo o H1N1 surgiu? Uma combinação particular de segmentos do gene viral ou alguma específica mutação deve ter ocorrido entre os porcos em algum lugar. O vírus H1N1 está em constante mutação. De que maneira as pessoas podem se proteger? Sem imunidade efetiva, a infecção se torna inevitável. De qualquer modo, a maior parte dos pacientes permanece com sintomas moderados, como os da gripe comum. As drogas Relanza e Tamiflu são eficientes. O tratamento com elas será de grande valia. Precauções pessoais e higiene, como evitar viagens desnecessárias, lavar as mãos e usar máscaras serão necessárias. (RC)