Com a crise econômica consumindo grande parte do tempo e da atenção de Barack Obama em seus primeiros 100 dias no governo, pouco pôde ser feito no período em relação a um tema tão importante quanto a recessão. Pelo menos para os mais de 46 milhões de americanos que não possuem assistência médica e acompanham com curiosidade os movimentos em relação à reforma do sistema de saúde. O que se tem até agora é um orçamento aprovado de US$ 634 bilhões para iniciar as mudanças e a complexa intenção do governo de ampliar a cobertura ao mesmo tempo em que se reduzem os gastos com a saúde.
Um escritório para a reforma já foi estabelecido na Casa Branca, e está sob os cuidados de Nancy-Ann DeParle, que, durante o segundo mandato de Bill Clinton, dirigiu a agência responsável por cuidar dos programas públicos Medicare (para maiores de 65 anos), Medicaid (para famílias de baixa renda) e o Programa público de Assistência Médica para Crianças (Schip, na sigla em inglês). No começo do mês, Obama autorizou a secretária de Saúde, Kathleen Sebelius, a criar um escritório destinado à reforma no seu Departamento para trabalhar diretamente com DeParle e evitar tensões entre o órgão e a Casa Branca na elaboração do plano de reforma.
Os principais obstáculos, no entanto, serão enfrentados no Congresso. Apesar de grande parte da maioria democrata acreditar que o projeto de reforma é vital, alguns congressistas veem com desconfiança uma participação tão grande do Estado e sua ;proximidade; dos modelos socialistas. ;Obama terá de obter, no mínimo, 60 votos para evitar que a votação do projeto seja sempre adiada. O ideal era que isso acontecesse nos primeiros dois anos de governo;, explica o cientista político William Binning, da Youngstown State University (Ohio).
Mas as indefinições sobre a proposta de reforma têm gerado especulações. O presidente do Comitê de Finanças do Senado, o democrata Max Baucus, por exemplo, vê com reticência os gastos de US$ 634 bilhões previstos no orçamento para ;dar início; ao projeto, já que um dos objetivos é a redução dos gastos com a saúde. Segundo a Casa Branca, nos últimos oito anos, os custos com saúde cresceram quatro vezes mais que os salários ; chegando a US$ 2,5 trilhões por ano ;, e, em 2009, podem fazer com que 1,5 milhão de pessoas percam suas casas. ;A minha preocupação é a viabilidade do ;adiantamento; e como ele ajudará o Congresso a conter os custos associados à reforma do sistema de saúde;, explica Baucus.
Outro ponto que suscita discussões acirradas é o modelo que deverá ser usado. ;Uma grande parte do plano inclui a expansão do Medicaid e do Schip como uma maneira de estender o benefício aos não segurados. Mas essa é uma parte polêmica do plano porque seria inviável sem o aumento de impostos e porque esses programas não funcionam bem;, afirma o especialista em Saúde Pública John O. Shea, da The Heritage Foundation.