Sem os Estados Unidos e cinco países europeus, a Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou um acordo de combate ao racismo. Depois de uma turbulência política gerada pela presença do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, as Nações Unidas decidiram acelerar as negociações e, imediatamente, aprovar o texto da declaração que havia sido costurado nos últimos meses para tentar dar uma mensagem de compromisso na luta contra o racismo. Ao contrário dos discurso incendiário de Ahmadinejad, o Irã cedeu nas negociações e aceitou incluir a palavra "holocausto" no texto do acordo.
Para o Brasil e os países latino-americanos, o acordo é uma primeira tentativa de dar mensagem contrária à proliferação de medidas contra a imigração nos países ricos e um sentimento de maior tensão em relação aos estrangeiros. A declaração está sendo vista pelas ONGs, pela ONU e por governos como a primeira tentativa de "curar as feridas" na relação entre Ocidente e islâmicos desde os atentados terroristas de 2001.
Mas o problema é o artigo que aponta que os governos "reafirmam" as conclusões da primeira conferência contra o racismo da ONU, em Durban em 2001. Naquela ocasião, americanos e israelenses abandonaram a reunião quando os árabes propuseram que sionismo fosse considerado como racismo. Desta vez, os palestinos aceitaram que sua causa não fosse citada e que a única menção fosse a condenação de "ocupação estrangeira". Mesmo assim, isso não foi suficiente para evitar que Estados Unidos, Alemanha, Canadá e outros seis países boicotassem o encontro. O ministro da Igualdade Racial, Edson Santos, criticou os boicotes. "O documento não faz menção agressiva ao estado de Israel. Então, seria perfeitamente possível que uma delegação americana subscrevesse esse documento que condena o racismo e a segregação racial no mundo, assim como delegação de Israel. Então acho que é inconcebível a postura intransigente e intolerante de determinados países evidentemente liderados por Israel e Estados Unidos", disse.
A ONU julgou que o boicote foi político e não tem qualquer relação com o texto do acordo. Ontem, o movimento judeu voltou a protestar, com ativistas vestidos de palhaço dentro da ONU. Foram expulsos. O movimento negro americano também criticou o presidente Barack Obama. "O boicote nos deixou irritados", afirmou Jaribu Hill, diretora do Mississippi Workers' Center for Human Rights. "Não vamos atenuar as críticas a Obama apenas porque ele é negro", disse.
Afrodescendentes e homossexuais - Sobre a situação da população de afrodescendentes, o novo texto incorpora a sugestão do Brasil de sugerir políticas de ação afirmativa e de propor a criação de índices de desigualdade racial. O Brasil conseguiu também a aprovação de referências à defesa dos direitos dos imigrantes, mas apenas depois de muita batalha diplomática com a delegação europeia.
A Human Rights Watch alerta que o acordo obtido pode ser o primeiro passo a superar divisões no mundo. "Hoje, estamos superando polarização entre Ocidente e islâmicos. O compromisso no texto mostrou que posição do Irã perdeu e que Ahmadinejad está perdendo sua influência", disse a entidade. Quem não obteve o que esperava foi a comunidade homossexual, que pedia que o texto condenasse a discriminação baseada em orientação sexual. Os principais opositores foram o Vaticano e os países islâmicos. O governo brasileiro acabou desistindo de incluir o ponto no acordo, mas prometeu incluir em seu discurso, que ocorre na ONU na sexta-feira.