MOGADÍSCIO - O Parlamento de transição da Somália aprovou neste sábado (18/04) por unanimidade a proposta governamental de instaurar a lei corânica (sharia) no país, que está em guerra civil desde 1991, anunciou o vice-presidente do Legislativo, Osman Elmi Boqore.
"Havia 340 membros na sessão e votaram de forma unânime pela instauração da sharia na Somália", afirmou o vice-presidente da assembleia, que comanda os debates na ausência do presidente do Parlamento, Aden Mohamed Nur. "O texto apresentado pelo governo está aprovado pelo Parlamento. Temos um governo islâmico", completou Nur.
O novo presidente somali, o líder dos islamistas moderados Sharif Sheikh Ahmed, eleito no fim de dezembro, já havia se pronunciado a favor da aplicação da sharia e de um cessar-fogo para favorecer negociações com os insurgentes islâmicos radicais, os shebab, contrários às autoridades.
A maior parte do centro e do sul do país do país está nas mãos dos insurgentes islâmicos e o norte se encontra dividido em duas entidades autoproclamadas autônomas, a região de Puntland e a "república" de Somalilândia.
O apoio do presidente Ahmed à medida foi uma resposta aos esforços de mediação de seis autoridades religiosas da Arábia Saudita, Qatar, Kuwait e Sudão, que buscavam um acordo de cessar-fogo entre o governo e os grupos islamitas radicais.
O líder dos islamitas somalis moderados foi eleito presidente por um Parlamento ampliado aos islamistas moderados e a representantes da sociedade civil. Ele sucedeu Abdullahi Yusuf Ahmed, que foi obrigado a renunciar no fim de 2008 e era contrário a negociar com os radicais. A instauração da sharia era uma das condições impostas pelos shebab para acabar com a sangrenta insurreição.
Os shebab já aplicam a lei corânica nas regiões sob seu controle, a maior parte do centro e do sul do país, incluindo a cidade de Baidoa (250 km ao noroeste de Mogadíscio), onde anteriormente ficava a sede do Parlamento. Além da instauração da sharia, os shebab exigem a retirada de todas as forças estrangeiras do país.
Depois da saída, em dezembro de 2008, do Exército etíope que apoiava o governo de transição, a única força estrangeira que permanece na Somália é a missão da União Africana (Amisom).
A votação no Parlamento aconteceu no momento em que o presidente e seu primeiro-ministro, Omar Abdisashid Sharmarke, estão fora do país para tentar obter apoio ao plano de paz.
Na próxima quinta-feira acontece em Bruxelas uma conferência internacional para aumentar a ajuda à Somália, que pretende fortalecer o Estado de direito e acabar com os ataques de piratas somalis no Golfo de Aden e no Oceano Índico.