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Obama tenta reconquistar a América Latina com humildade

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O presidente Barack Obama parte nesta sexta-feira, segundo ele, para a reconquista do terreno perdido pelos Estados Unidos na América Latina com a intenção de ouvir humildemente, mas o que ele pretende apresentar na Cúpula das Américas poderá não sempre agradável. Antes desse primeiro grande encontro com a América Latina o governo Obama falou muito de parceria, de coordenação e de retomada do diálogo. Mas, em Trinidad e Tobago, arquipélago do Caribe onde se reúnem os 34 chefes de Estado e de governo das Américas de sexta-feira a domingo, Obama encontrará líderes ansiosos em se fazer ouvir após oito anos de governo Bush durante o qual muita coisa foi feita, segundo eles, na surdina. Obama não terá apenas que lidar com os habituais críticos dos Estados Unidos, com o presidente venezuelano Hugo Chávez à frente. Este já anunciou que não assinará a declaração final da cúpula em solidariedade a Cuba, único Estado americano excluído. Os aliados de Chavez e outros terão também a oportunidade de expressar a Obama que, desta vez, a crise econômica não é culpa deles, que a América Latina, após anos de crescimento, paga pelas práticas e pela cobiça dos americanos, e que são suas populações mais frágeis que poderão sofrer mais. As acusações poderão ser avivadas pela perspectiva de eleições em vários países. Ao se preparar para o encontro, Obama disse que procurava cooperação para proteger as populações mais vulneráveis em favor das quais já se mobilizou, na cúpula dos países industrializados e das economias emergentes, no início de abril, em Londres. Ele enumerou todas as medidas tomadas em três meses por sua jovem administração para relançar a economia dos Estados Unidos, da qual os países das Américas dependem. Ele lembrou o seu compromisso de reformar a regulação do sistema financeiro para que uma crise como esta não se repita. Face à crise econômica, mas também ao crime organizado ou ao aquecimento global, Obama oferece uma nova era de cooperação e a "chance de um novo começo". Em uma entrevista concedida à rede CNN em espanhol, Obama disse não querer "superestimar o sentimento antiamericano". "Mas que é certo também, que sempre existiu, tradicionalmente, uma preocupação, um sentimento de que os Estados Unidos têm a mão muito pesada em matéria de política externa na América Latina. Isto não é algo que surgiu durante o governo Bush", disse, citando a doutrina Monroe do século XIX, considerando como atos de agressão as ingerências europeias nos assuntos das Américas. Em meio a essa preocupação, Obama viaja para Trinidad e Tobago, "como fez na Europa, não com um grande projeto, mas com a disposição de ouvir", disse seu porta-voz Robert Gibbs. Ele não fugirá do debate, porque se os americanos não conversassem com seus amigos, "estaríamos provavelmente todos sós", disse Gibbs. Ele não se esquivará de Chávez se ele o chamar, disse. Mas o governo americano quer acreditar que a maior parte dos outros participantes da cúpula adotará a mesma atitude cooperativa. Assim, Dan Restrepo, assessor de Obama, não acredita que a questão cubana possa eclipsar o encontro. "Discutiremos outros assuntos" além da crise econômica, "mas acho que nos concentraremos mais nas dificuldades que a região enfrenta hoje".