Enquanto as bandeiras da Rússia e da Chechênia tremulavam juntas, de dentro dos carros que circulavam ontem por Grozny, um homem obrigado a deixar sua pátria temia pelo futuro, a 450km da capital separatista. Pela internet, Gennadiy Georgievich, de 47 anos, disse ao Correio que não vê esperanças de paz. ;A Chechênia está no meio de um conflito eterno;, comentou. O anúncio do Kremlin de que Moscou encerrou a operação ;antiterrorista; na província não comoveu o engenheiro-chefe de uma empresa de óleo e gás no território de Stavropol, no norte do Cáucaso. ;Celebrar com bandeiras não vai melhorar a vida dos chechenos;, criticou. Em comunicado divulgado ontem, o Comitê Antiterrorista da Rússia indicou ter ;anulado em 16 de abril a ordem que declarou que o território da república da Chechênia era uma zona de operações antiterroristas;. Na teoria, a decisão ; tomada pelo presidente Dmitry Medvedev em 27 de março ; representa o fim de uma sangrenta ofensiva lançada em 1999, que deixou mais de 800 mortos. A agência de notícias Interfax, citando uma fonte das forças armadas, indicou que cerca de 20 mil militares serão chamados a deixar a república do Cáucaso.
Na prática, as organizações de defesa dos direitos humanos não veem grandes mudanças na região. Com clara tendência pró-Moscou, o presidente checheno, Ramzan Kadyrov, é acusado pelos ativistas de governar com mão de ferro sobre o território. ;Ele é um ditador genuíno;, reclamou Gennadiy. As entidades humanitárias acusam Kadyrov de formar milícias para cometerem abusos sistemáticos contra a população de 1 milhão de pessoas. ;Eu deixei Grozny em 2000 porque preferi continuar entre os vivos e para preservar a vida de minha família;, acrescentou o engenheiro.
Na capital da Chechênia, o engenheiro Eldarkhanov Bekkhan, de 30 anos, não vê motivos para comemoração. ;Moscou deveria ter feito isso há muito tempo. Mas essa medida não era rentável;, criticou. ;Para nós, chechenos, essa decisão ainda não está clara, achamos que há razões mercenárias nisso.; Ele acusou a operação antiterrorista do Kremlin de impedir a abertura da alfândega no aeroporto de Grozny. ;Aqui, a lei para o povo russo não existe. Moscou pode fazer tudo o que quiser;, afirmou.
;A decisão (de levantar a operação na Chechênia) visa a criar as condições para a normalização futura da situação na república, sua reconstrução e o desenvolvimento de sua esfera socioeconômica;, afirmou um comunicado assinado por Alexander Bortnikov, chefe do Serviço de Segurança Federal, a antiga KGB. ;Se a operação antiterror está acabada, isso significa que derrotamos os bandidos. Nós podemos calmamente anunciar a vitória;, disse um triunfante Kadyrov, durante entrevista coletiva em Grozny.
Para o analista russo Nikolay Petrov, do Carnegie Endowment for International Peace (em Moscou), o fim da ofensiva significa a retirada de boa parte das tropas do governo e a transferência da segurança para os homens de Kadyrov. ;Isso é resultado dos esforços do presidente checheno em expandir seu poder e prevenir uma insurgência. Ao minimizar a presença federal, Kadyrov fará com que a Chechênia não seja mais parte de facto da Rússia;, afirmou.