O grupo militante islâmico Abu Sayyaf libertou hoje uma das três pessoas mantidas em cativeiro há dez semanas nas selvas do sul das Filipinas, informou o secretário de Defesa, Gilbert Teodoro. A agente filipina da Cruz Vermelha Mary Jean Lacaba foi entregue a um comandante militar e ao vice-governador da região onde ocorreu o sequestro. Após a soltura, Lacaba informou que seus dois colegas que continuam reféns do grupo estão vivos, mas cansados e em perigo.
A inesperada libertação de Lacaba e as notícias de que seus colegas não foram mortos ocorreu depois de os integrantes do Abu Sayyaf, que tem ligações com a Al-Qaeda, terem ameaçado decapitar um dos reféns porque as forças filipinas se recusaram a sair de áreas próximas de onde o grupo está. Homens armados do Abu Sayyaf libertaram Lacaba, de 37 anos, numa área próxima à vila de Indanan, na ilha de Jolo, sem o pagamento de resgate, disse a negociadora do governo Lady Anne Sahidulla.
A funcionária da Cruz Vermelha foi levada numa cadeira de rodas para um hospital militar em Jolo. Ela parecia fraca e confusa com o furor sobre sua libertação. Usando um lenço muçulmano vermelho, conhecido como hijab, ela recebeu uma tigela de mingau antes passar por exames médicos. "Muito obrigada senhor. Eu chorei tantas vezes", afirmou Lacaba ao senador Richard Gordon, o chefe local da Cruz Vermelha, em ligação telefônica logo depois de sua libertação. "Esta é a resposta às orações de nosso povo", disse a presidente filipina, Gloria Macapagal Arroyo.
Gordon contou que a libertada pediu a ele que pressione o Exército a relaxar as operações, porque os reféns remanescentes, o italiano Eugenio Vagni e o suíço Andreas Notter, "estão muito, muito cansados e sofrendo muito". Os capturados sobreviveram a dois confrontos entre os militantes e as forças do governo.
Alain Aeschlimann, do Comitê Internacional da Cruz Vermelha em Genebra, refez seu apelo pela libertação incondicional de Vagni e Notter, afirmando que "o pesadelo desse sequestro não acabou". Gordon pediu que o Abu Sayyaf não cause danos aos reféns remanescentes, um dos quais agora caminha com uma bengala. "Eu faço um apelo a eles para que não causem ferimentos aos reféns e também peço ao Exército que vá devagar e não aja se for perigoso."
Ameaças
Os três funcionários da Cruz Vermelha foram sequestrados no dia 15 de janeiro, quando visitavam um projeto de saneamento na prisão provincial da Jolo. Depois de mantê-los cativos por mais de dois meses, o Abu Sayyaf ameaçou decapitar um dos reféns a menos que as tropas do Exército saíssem da maior parte da província predominantemente muçulmana de Sulu, que inclui a ilha de Jolo, até terça-feira. O governo disse que já havia retirado parte de suas forças e que não podia concordar com a exigência.
Com o fim do prazo imposto pelo Abu Sayyaf, o governador de Jolo Sakur Tan, declarou estado de emergência na ilha, reenviando tropas para perto do grupo militante e fazendo negociações secretas. O Abu Sayyaf já decapitou reféns antes, dentre eles um norte-americano em 2001 e sete filipinos em 2007. Os Estados Unidos colocaram o grupo em sua lista de organizações terroristas.