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Fabricante de cimentos suíça denuncia o governo venezuelando por falta de indenização pós-nacionalização

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A companhia suíça Holcim apresentou ontem uma denúncia contra a Venezuela perante o Centro Internacional para a Arbitragem de Disputas sobre Investimentos (Ciadi) do Banco Mundial. A empresa afirma não ter recebido a indenização correspondente ao processo de nacionalização de sua filial no país, durante a campanha de estatizações do presidente Hugo Chávez. ;Em outubro de 2008, o governo venezuelano cessou as comunicações;, afirma uma nota da Holcim. De acordo com o porta-voz Peter Gysel, a Venezuela deve cerca de US$ 552 milhões à empresa suíça. Em 2008, Chávez nacionalizou toda a indústria de cimento como parte de seu projeto de controlar setores considerados estratégicos para a produção nacional. A Lafarge, outra fabricante do material, afirma que o governo está atrasado com o pagamento de US$ 267 milhões pela compra de sua filial venezuelana. Outras empresas que ameaçam levar o governo de Chávez à arbitragem internacional caso não sejam indenizadas são a mexicana Cemex SAB, Exxon Mobil e Phillips. O governo venezuelano ainda expropriou este mês uma cerealista da americana Cargill e um terreno de árvores da irlandesa Smurfit Kappa Group Plc, produtora de celulose. A Polar S.A. também está ameaçada de nacionalização e deve engrossar a lista de credores. Outras empresas continuam aguardando o pagamento de serviços contratados pelo governo Chávez. Por falta de pagamento, prestadoras terceirizadas para a estatal Petroleos de Venezuela (PDVSA) suspenderam as operações nas plataformas, e a construtora brasileira Odebrecht anunciou na semana passada que está atrasando as obras do trem subterrâneo de Caracas porque o governo atrasou o pagamento. Analistas econômicos ressaltam que o atraso em saldar as dívidas é sinal do déficit orçamentário em que ficou o país depois do colapso dos preços do petróleo. A empresa Ecoanalítica avalia que Chávez deve US$ 10,2 bilhões a companhias absorvidas por meio da nacionalização. Santander Na falta de dinheiro, Chávez resolveu cumprir uma promessa de agosto do ano passado: nacionalizar o Banco da Venezuela, filial do grupo financeiro espanhol Santander. ;Disseram-me que não queriam vender, agora lhes digo: eu o quero, e vamos nacionalizá-lo. Faz-nos muita falta um banco dessa magnitude na Venezuela;, declarou Chávez em 2008. O momento da nacionalização chegou ontem. Para o presidente, trata-se de ;fortalecer o sistema bancário público; do país. O ministro de Economia da Espanha, Pedro Solbes, afirmou em Madri que os mercados financeiros e o setor privado analisariam a decisão do governo de Chávez. ;A priori não parece que os argumentos para a nacionalização na Venezuela se justifiquem;, disse Solbes. O conselheiro econômico do Instituto Espanhol de Comércio Exterior (Icex) em Caracas, Juan Carlos Recoder, explicou ao Correio que o valor anteriormente acordado era de US$ 1,2 bilhão, mas que agora já não se sabe qual valor o governo venezuelano pretende pagar pelo banco Santander. Para Chávez, o banco ;não vale o que valia há um ano. Não venham nos pedir como os argentinos;, referindo-se à nacionalização da siderúrgica Sidor, na qual houve controvérsias sobre o preço a ser devolvido. Apesar da crise financeira global e da aparente falta de dinheiro efetivo no país, Chávez reúne hoje os ministros de Economia da Argentina, Paraguai, Uruguai, Equador e Bolívia em Caracas para discutir o andamento do Banco do Sul, uma proposta de banco regional que poderia servir de alternativa ao Fundo Monetário Internacional (FMI). O Ministério da Fazenda brasileiro será representado pelo secretário de Assuntos Internacionais, Marcos Galvão, e pelo chefe de gabinete, Luiz Eduardo Melin de Carvalho Silva. ;Há muita força contrária, mas vamos adiante;, disse Chávez. Em novembro do ano passado, os sete países sul-americanos se reuniram em Caracas para elaborar um rascunho da ata de constituição do banco regional. O capital inicial seria de US$ 20 bilhões, alcançado por meio da contribuição diferenciada dos países-membros.