A apenas 500m da casa de D.P. (ele não quer ser identificado), um pai manteve a filha em cárcere privado por 24 anos. Elisabeth, hoje com 42 anos, dividia o porão de 20m2 com ratos, que algumas vezes mataram sua fome. Quase todos os dias, era obrigada a satisfazer as taras do engenheiro austrÃaco Josef Fritzl, de 73 anos, seu próprio pai. Foram mais de 3 mil sessões de estupro. Dos abusos sexuais vieram sete gestações, sete filhos e um escândalo que abalou a Ãustria e o mundo.
Apesar de Amstetten ser uma cidade pequena ; são 25 mil moradores e é possÃvel caminhar de uma ponta a outra em 20 minutos ;, D.P. jamais se encontrou com Fritzl. ;Os escritórios do governo ficam a poucos metros da masmorra (veja a arte). Fritzl procurava passar desapercebido e dirigia até 60km para buscar comida para sua famÃlia;, explicou D.P. ao Correio, em entrevista pela internet.
No primeiro dia de julgamento, em St. Pölten (70km a leste de Amstetten), o ;monstro da Ãustria; vestia um blazer cinza e usava um caderno para esconder o rosto. O homem que em maio passado disse ter ficado ;viciado; em fazer sexo com a filha admitiu ser ;parcialmente culpado; das seis acusações a que responde no tribunal Landesgericht St. Pölten. Ele reconheceu a responsabilidade pelos crimes de incesto, estupro, coerção e privação de liberdade, mas negou ter cometido assassinato e escravidão. Um dos filhos com Elisabeth morreu poucos dias depois do parto e foi incinerado no porão pelo pai-avô. O veredicto deve ser divulgado até sexta-feira.
Cercado por oito policiais e sentado em uma mesa ao centro, Fritzl evitou olhar diretamente para o júri ; quatro homens e quatro mulheres ; à sua esquerda. Do lado de fora do prédio, mais de 100 jornalistas assistiam ao julgamento por meio de um telão, sob uma tenda. O advogado de defesa Rudolf Mayer tentou convencer os jurados de que seu cliente se preocupava em retirar os filhos-netos do porão quando eles ficavam doentes e pediu que cada um deixasse a emoção de lado. Por sua vez, a promotora Christiane Burkheiser foi direta. ;Senhor Fritzl, como pôde fazer isso com sua própria carne e sangue?;, perguntou, ao ler o termo de indiciamento de 27 páginas. ;Josef Fritzl tratou sua filha como propriedade. (%u2026) O réu não mostrou sinais de arrependido ou qualquer consciência de ter feito algo errado.;
JuÃza
Em um dos pontos cruciais do dia, o ;monstro da Ãustria; teve de responder a uma série de questões formuladas pela juÃza Andrea Humer. ;Você ameaçou matar sua filha e as crianças se contassem a verdade?;, perguntou. Ele negou. Andrea quis saber sobre os crimes sexuais. ;Parcialmente culpado;, afirmou Fritzl. Às acusações que lhe poderiam custar a pena perpétua ; escravidão e assassinato ;, Fritzl garantiu inocência.
Com a voz grave, o réu culpou a mãe pelo que ele se tornou em 1984. ;Ela costumava me proibir de ter amigos. Eu tive uma infância problemática;, declarou. ;Aos 12 anos, eu descobri a força para enfrentá-la e, a partir daquele momento, eu me tornei o Satã para ela.; Morador de St. Pölten, o padre e teólogo Josef Spindelböck disse à reportagem esperar que o julgamento termine logo, com a ;vitória da Justiça;. ;O abuso infantil é um dos mais graves crimes, firmemente condenado pela Igreja.; Até o fim da semana, Fritzl poderá experimentar do veneno destilado contra a filha durante mais de duas décadas e ser encarcerado pelo resto da vida.