Primeiro presidente de um país em desenvolvimento a entrar na Casa Branca desde a posse de Barack Obama, o brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva levará ao colega a preocupação com as medidas protecionistas tomadas em tempo de crise. Antes de sair de Brasília, na tarde dessa sexta-feira (13/03), ele afirmou que ;vai conversar muito sobre a crise econômica; e colocar em pauta o restabelecimento do crédito internacional e a conclusão da Rodada de Doha, que visa diminuir as barreiras comerciais em todo o mundo.
Mas não só a economia terá lugar. A questão energética, a Cúpula do G-20 em Londres (2 de abril) e temas regionais também entrarão na agenda. Se sobrar espaço no curto encontro ; sozinhos, os dois só devem ter 20 minutos de conversa ;, Lula ainda deve interceder por Cuba e pela Venezuela, enquanto é possível que Obama peça mais informações sobre o caso do menino Sean Goldman, que está no Brasil e é filho de um americano que briga pela sua guarda.
O encontro, no entanto, terá um formato diferenciado das tradicionais reuniões entre chefes de Estado. Além da conversa a portas fechadas entres os dois presidentes, os ministros da Casa Civil, Dilma Rousseff, e das Relações Exteriores, Celso Amorim, também participarão de conversas com a equipe do governo americano, que reservou uma hora na agenda do presidente para a comitiva brasileira. Para Amorim, o fato de o encontro ter sido marcado para um sábado, teoricamente um dia mais ;livre; para Obama, mostra a disposição em fazer um reunião sem ;pressões; de outros compromissos. ;Isso permitirá uma boa conversa;, opinou.
A expectativa é das melhores no Planalto. Lula chegará à Casa Branca sem medo de tocar em temas espinhosos como as medidas protecionistas tomadas pelo governo americano. ;Agora, no primeiro calo que começa a doer, eles acham que tem de voltar o protecionismo. (;) Nós precisamos deixar claro que o protecionismo pode ajudar momentaneamente, mas no médio prazo o protecionismo será um desastre para a economia mundial;, afirmou.
Thomas Shannon, subsecretário de Estado para o Hemisfério Ocidental, acredita que o encontro servirá para ;abordar a crise econômica, tanto nacionalmente, com pacotes de estímulo, como por meio de ação internacional coordenada;. ;É uma oportunidade para fortalecer a importante relação que temos com o Brasil;, disse Shannon, que classificou as recentes ações positivas de Washington em relação ao Brasil ; como encontros bilaterais e telefonemas ; como um reconhecimento da ;ascendência do país; no mundo.
Especialistas são unânimes em definir este como um dos melhores momentos na relação dos dois países. No entanto, alguns defendem que é preciso cautela para saber a hora de tratar de assuntos mais complicados, como a conclusão de Doha e a reforma no Conselho de Segurança da ONU. ;Há uma expectativa positiva, mas temos de ser realistas. A grande sinalização será da continuidade desse clima positivo, do aprofundamento do diálogo entre os países, principalmente nas questões sul-americanas;, afirma a professora de relações internacionais da Universidade Estadual Paulista Cristina Pecequilo.
;Em comparação com o governo Bush, a política americana sobre o Brasil e a região vai ser mais pragmática e menos ideológica. Há grandes de áreas de interesses convergentes. Além da energia e das finanças, se a administração Obama se tornar realmente engajada no debate sobre mudanças climáticas, então obviamente o Brasil se tornará um parceiro fundamental na região;, opina o brasilianista William Smith, da Universidade de Miami.
O QUE SERÁ CONVERSADO
# Crise financeira
Lula abordará com Obama medidas que podem reverter as restrições ao crédito e deve sugerir que os Estados Unidos não adotem políticas mais protecionistas devido à turbulência econômica. O plano de socorro financeiro da Casa Branca incluiu a cláusula Buy American, que prioriza a compra de matérias-primas americanas em detrimento de estrangeiras.
# Etanol
É um tema de consenso. Ambos pretendem falar sobre a necessidade de promoção dos biocombustíveis em todo o planeta, para reduzir a dependência de petróleo e combater as mudanças climáticas.
# Cuba
O presidente brasileiro levará a Obama um apelo de vários governos latino-americanos pelo fim do embargo a Cuba, iniciado na década de 1960.
# Venezuela
Lula recebeu sinal verde de Caracas para pedir que os Estados Unidos busquem um diálogo conciliador com o regime de Hugo Chávez.