Forças de ordem reforçadas nos povoados tibetanos, junto a postos de controle e a proibiçao de qualquer atividade pública: a China intensificou as medidas de segurança nesta terça-feira por ocasião do 50º aniversário da revolta tibetana reprimida com violência.
Os jornalistas estrangeiros, que tentaram visitar as regiões vizinhas do Tibete, no oeste da China, não foram bem recebidos e a tensão era evidente por parte das forças de segurança.
A imprensa conseguiu, no entanto, chegar ao mosteiro de Lajia, mas os monjes se negaram a fazer declarações, aparentemente por medo de represálias.
Cerca de seis milhõse de tibetanos vivem no Tibete e nas regiões vizinhas, como Qinghai.
Em Lhasa, a capital da região autônoma, os policiais patrulhavam o templo de Yojang, na cidade velha, no mesmo lugar em que explodiram os distúrbios há quase um ano.
Exilados tibetanos conseguiram protestar na capital nepalesa, Katmandu. Quase 150 pessoas, entre elas monges budistas e crianças, saíram às ruas aos gritos de "Libertem o Tibete", "Parem as matanças no Tibete" e "Longa vida ao Dalai Lama".
Alguns enfrentaram a polícia dentro de um mosteiro e seis tibetanos foram detidos.
O Dalai Lama, por sua vez, acusou a China de ter transformado o Tibete em um "inferno" e de ter matado "centenas de milhares de tibetanos".
Do exílio em Dharamsala, norte da Índia, o Dalai Lama voltou a reiterar a reivindicação deuma "autonomia significativa" para seu país natal.
"Estes últimos 50 anos têm sido de sofrimento e destruições para o território e o povo do Tibete", afirmou o Prêmio Nobel da Paz de 1989 em um discurso pronunciado em um templo do Himalaia indiano.
"Uma vez ocupado o Tibete, o governo comunista chinês passou a realizar ali toda uma série de campanhas de violências e repressão (...) Os tibetanos têm vivido literalmente um inferno na Terra", acusou o líder do budismo tibetano.
"Consequência imediata destas campanhas: a morte de centenas de milhares de tibetanos", criticou.
Pequim reagiu e acusou o Dalai Lama de "propagar rumores", ao mesmo tempo que afirmou não querer responder às "mentiras" do líder espiritual tibetano.
"A camarilha do Dalai Lama não distingue o verdadeiro do falso. Propaga rumores", declarou o porta-voz do ministério chinês das Relações Exteriores, Ma Zhaoxu.
Tibetanos exilados e simpatizantes da causa do Tibete saíram às ruas nesta terça-feira em diversos países do mundo para comemorar o 50º aniversário do levante antichinês,
Na República Tcheca, país que presidente atualmente a União Europeia, a bandeira tibetana foi hasteada em Praga, no parlamento e em pelo menos dois ministérios, assim como em inúmeros prédios públicos em todo o país.
Na Suíça, mais de mil pessoas desfilaram em paz nesta terça-feira à tarde em Berne, a capital federal suíça, nos arredores da embaixada da China.
Na Áustria, os prefeitos de 190 comunas fizeram o mesmo. Em Haia, aproximadamente 250 pessoas desfilaram em direção à embaixada da China.
Na Europa, simpatizantes da causa tibetana marcaram várias manifestações.
Na Austrália, manifestantes pró-tibetanos e policiais se enfrentaram na capital Canberra, onde aproximadamente 150 pessoas se reuniram para uma passeata perto da embaixada chinesa.
Nos Estados Unidos, centenas de exilados agitando bandeiras tibetanas e americanas manifestaram segunda-feira em frente à Casa Branca e à embaixada da China, onde eles se encontraram com um dos mais famosos dissidentes chineses, Wei Jingsheng.
Outro famoso partidário do Dalai Lama, o ator Richard Gere, que é budista, manifestou esperança em ver a eleição de Barack Obama, primeiro presidente negro dos EUA, inspirar os chineses para que eles tenham um dia um dirigente tibetano.