BYLAKUPPE - O Dalai Lama, o chefe espiritual tibetano, alertou contra uma repressão chinesa no Tibete com a aproximação, no dia 10 de março, do 50º aniversário da sublevação contra Pequim.
"A campanha de represálias foi relançada e há uma forte presença das forças de segurança e das forças armadas (...) em todo o Tibete", afirma o líder religioso exilado na Índia.
"Em particular, restrições especiais foram impostas aos mosteiros (...) e a visitas de turistas", escreveu ele em mensagem divulgada em Bylakuppe, cidade do sul da Índia, onde residem milhares de tibetanos no exílio.
Mais de 200 tibetanos foram mortos ano passado durante as manifestações de março que coincidiram com o 49º aniversário do levantamento contra a China de 10 de março de 1959, segundo exilados tibetanos. Pequim, por sua vez, acusou os "revoltosos" tibetanos de terem matado 21 pessoas.
Os gestos recentes da China sugerem que Pequim tem a intenção de "submeter o povo tibetano a um tal nível de crueldade e de perseguição que este não poderá mais tolerar, sendo obrigado a protestar", acrescenta o Dalai Lama.
"Quando isso acontecer, as autoridades poderão, então, partir para uma repressão feroz, sem precedentes e inimaginável", prosseguiu. "É por isso que quero rogar ao povo tibetano para se mostrar paciente, não cedendo a provocações a fim de que vidas preciosas sejam poupadas".
O Dalai Lama, de 73 anos, vive na Índia desde sua fuga de Lhassa em seguida à sublevação antichinesa de 1959 morando em Dharamsala.
"Hoje há muita indignação", afirmou o líder do budismo tibetano e Prêmio Nobel da Paz 1989. "Estou preocupado porque uma nova rebelião provocará mais repressão, e tudo isso é muito triste. Há pessoas presas e, às vezes, assassinadas", denunciou.
De acordo com a história, Dalai significa "Oceano" em mongol e "Lama" é a palavra tibetana para mestre, guru, pelo que é considerado um "Oceano de Sabedoria" - título dado pelo regime mongoliano a Altan Khan (o terceiro Dalai Lama) e agora aplicado a cada encarnação da sua linhagem.
Segundo a tradição do Tibete, os dalai lamas são reconhecidos como a reencarnação do príncipe Chenrezig, o Avalokitesvara, o portador do lótus branco, que representa a compaixão, ou mais simplesmente como uma das reencarnações de Buda. Sua Santidade, o Dalai Lama, é o líder temporal e espiritual do povo do Tibete.
Tenzin Gyatzo , o 14º Dalai Lama, nasceu numa família de camponeses. Aos dois anos foi reconhecido como a reencarnação do 13º Dalai Lama, que o precedeu, segundo a tradição tibetana.
Iniciou seus estudos aos seis anos. Mudou-se para Lhasa, a capital do Tibete, passando a residir no Palácio de Potala, onde iniciou um longo preparo para sua missão. Em Lhasa realizou estudos preparatórios de história e filosofia e tornou-se líder espiritual do Tibete.
Com a invasão do Tibete pela China, em 1950, o Dalai Lama tornou-se chefe de Estado, passando a liderar as negociações pela soberania do Tibete.
Ao contrário de seus predecessores, estabeleceu contato com dirigentes e líderes religiosos de todos o mundo, esforçando-se para encontrar uma solução pacífica para a independência. A partir de 1980, uma série de esforços diplomáticos foram realizados no sentido de favorecer a reaproximação entre os dois governos.
Em 1987 o Dalai Lama chegou a elaborar um plano de paz de cinco pontos voltado para a libertação do Tibete mas que, no entanto, foi rejeitado pelo governo chinês.
Tenzin Gyatzo tornou-se personalidade mundial, representando o esforço de paz entre os homens.