NAIRÓBI - Os cientistas pretendem criar um mecanismo internacional especializado em biodiversidade para serem ouvidos pelas autoridades que tomam decisões nesta área, como o Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC), mas alguns países, como o Brasil, preocupados em proteger sua soberania, estão relutantes.
A ONU decidiu, mesmo assim, ir adiante: o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), anunciou nesta quinta-feira, em Nairóbi, sua decisão de organizar uma reunião intergovernamental dedicada a este assunto "o mais rápido possível em 2009".
A ideia da criação de um IPCC da biodiversidade foi lançada pela França em janeiro de 2005, na Conferência Internacional de Paris. No entanto, alguns países como o Brasil ou a Colômbia, que possuem uma fauna e uma flora de uma riqueza excepcional, manifestaram suas reticências.
"Eles não querem que nós nos intrometamos no que acontece no país deles", disse Maxime Thibon, especialista da Fundação francesa para a biodiversidade, presente em Nairóbi.
Contrariamente ao clima, que é um fenômeno global, a erosão da biodiversidade é localizada. Outros países, como a China, questionam a necessidade de adotar uma nova ferramenta, mas já existem diversas convenções internacionais, como a Convenção sobre a diversidade biológica.
O clima tem o IPCC, mas não existe mecanismo para avaliar a erosão da biodiversidade no mundo.
Entretanto, este tema é bastante fundamental, tanto para a redução da pobreza, o abastecimento em água potável, os conflitos ligados à utilização e à apropriação de recursos renováveis, como para a saúde.
Mas com a complexidade destas questões, a comunidade científica responsável por este assunto é muito fragmentada e, de repente, não consegue se fazer ouvir pelas autoridades políticas, que são as que tomam as decisões.
Um projeto de criação de uma Ipbes (Plataforma intergovernamental científica e política sobre a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos) está sendo estudado. O ministro francês do Desenvolvimento sustentável, Jean-Louis Borloo, defendeu o projeto em Nairóbi. "Claro, existem problemas de soberania, mas precisamos encontrar soluções", disse.
O Brasil se defende de querer conter o projeto: "Nós não somos nada contra", afirmou o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, em Nairóbi. Ele deseja no entanto que este futuro mecanismo seja colocado sob tutela da CBD, o que dificultaria o processo, segundo os defensores desta Ipbes.
Os EUA se interessaram pela ideia, afirmou Daniel Reifsnyder, chefe da delegação americana na capital queniana.
A reunião intergovernamental anunciada pelo Pnue deve permitir "fixar o método e o calendário para que o Giec da biodiversidade seja operacional em 2010", destacou o francês Christophe Aubel, diretor da liga Roc.
O ano de 2010 é o limite para o comprometimento internacional para desacelerar significativamente a erosão da biodiversidade e será para a ONU o ano da biodiversidade.