Sete tiros na cabeça e um no ombro selaram o destino de Jean Charles de Menezes, um eletricista mineiro de 27 anos que havia trocado Gonzaga (MG) por Londres para juntar dinheiro e ajudar os pais. Na tentativa de obterem a punição dos policiais da Scotland Yard que confundiram o rapaz com um terrorista, familiares transformaram o sofrimento em união e partiram para a luta. Mas a batalha judicial terminou ontem, quando membros do Serviço de Promotoria da Coroa britânica (CPS, pela sigla em inglês), revisaram ; pela segunda vez ; as pistas da execução e decidiram não processar nenhum dos oficiais envolvidos no crime.
;Eu concluà que há evidências insuficientes de que qualquer crime foi cometido por oficiais em relação à trágica morte do senhor Menezes;, afirmou Stephen O;Doherty, da Divisão de Crimes Especiais da CPS. Segundo o jornal The Daily Telegraph, O;Doherty considerou a inexistência de indÃcios que o levassem a acusar os agentes inclusive por homicÃdio involuntário. A determinação da promotoria encerra a possibilidade de colocar atrás das grades os policiais que mataram o brasileiro, em 22 de julho de 2005.
A famÃlia de Jean Charles reagiu com uma mistura de revolta e frustração. Por telefone, de Londres, Alex Pereira contou ao Correio que o inquérito sobre a morte do primo foi alvo de ;manipulação;. ;Todos viram que o juiz impediu os jurados de tomarem a decisão que eles queriam e deixou o veredicto em aberto;, desabafa. Para o motoboy, a Justiça britânica costuma bloquear a punição, dependendo do réu envolvido. ;Aqui não é diferente do Brasil: culpados são punidos apenas se forem pobres e se não tiverem nenhuma proteção. Quem tem as costas quentes não fica preso aqui, não;, ironiza.
Premeditado
Alex lembra que os policiais da Scotland Yard se deslocaram até Stockwell com o claro propósito de matar alguém. ;Os oficiais estavam ali para executar uma pessoa e, por isso, teriam de ser punidos pela morte de um ser humano;, comenta. Em dezembro passado, o júri da corte britânica reconheceu falhas grotescas na operação antiterrorista.
O veredicto aberto, que rejeitou o termo ;homicÃdio legal;, e a renúncia de Ian Blair ; comissário-chefe da Scotland Yard ; foram visto pela famÃlia Menezes como oportunidades uma punição. O ânimo deu lugar à falta de esperança. ;A gente não consegue ir a lugar algum, não. O inquérito foi a parte mais importante do caso. Buscamos a verdade lá no fundo, mas ela foi ignorada;, afirma.
Vivian Figueiredo, também prima de Jean Charles, admite que a decisão da promotoria deixou a famÃlia descontrolada. ;A CPS não se reuniu conosco ou com nossos advogados, fomos excluÃdos do processo;, denuncia. ;Não entendemos como o assassinato deliberado de um inocente e a tentativa da Scotland Yard de encobri-lo não resultaram em acusação.; Em nota oficial, a campanha Justiça por Jean Charles de Menezes garantiu que recorrerá ao Parlamento para cobrar mudanças na lei envolvendo crimes praticados pela polÃcia.
» Ouça entrevistas: Alex Pereira e Maria Otone, primo e mãe de Jean Charles de Menezes