Alan Jara, um engenheiro de 51 anos, libertado nesta terça-feira (03/02) pelas Farc, foi, segundo relatos de ex-reféns da guerrilha, o responsável pela manutenção do ânimo dos militares e policiais sequestrados, com animadas aulas de russo e inglês no meio da selva colombiana.
Jara, ex-governador do departamento (província) de Meta (centro) foi sequestrado no dia 15 de junho de 2001, quando andava em um veículo da Organização das Nações Unidas (ONU) por uma estrada da região.
Apesar das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia terem decidido dividir os políticos e militares em dois grupos, Jara permaneceu junto com os oficiais, que imploraram aos guerrilheiros por sua presença.
Sobre uma mesa improvisada, em meio às duras condições do cativeiro, cercado pela selva, Jara acomodava os militares em um círculo em torno de si, para ensiná-los inglês e russo, que aprendeu em Kiev, na Ucrânia, onde se formou em Engenharia.
"Alan tem uma enorme paixão pela docência, mas, sobretudo uma forte convicção: que o único bem que ninguém nem nada pode tirar de um ser humano é a força do pensamento, e isso fez com que ele motivasse esses homens e os ajudasse a sobreviver", disse à AFP Claudia Rugeles, mulher de Jara.
Através das aulas - que incluíam prêmios imaginários para aqueles que tivessem a melhor pronúncia ou concursos de ortografia dos novos idiomas -, o político ajudou os militares - e a ele mesmo - a manter a vontade de viver no cativeiro.
Segundo a ex-refém Consuelo González, Jara "se tornou o anjo da guarda e o bastião moral dos militares".
"Ele sempre encontrava uma maneira de levantar o ânimo. Motivava-os (os militares e policiais) dizendo que aprendessem os idiomas, para que, quando fossem soltos, fossem enviados por suas instituições para embaixadas no estrangeiro, e essa ilusão os manteve vivos", contou González à AFP.
"Todas as pessoas que saem do cativeiro concordam que, graças a Alan, sofreram muito menos, e que contar com ele permitiu que seguissem com vida. Isso para mim era um grande estímulo, mas já chegou a hora dele vir e salvar minha vida e a vida de meu filho", afirmou a mulher do político.