ROMA - O Vaticano qualificou nesta terça-feira (03/02) de "abominável assassinato" a interrupção da alimentação artificial da italiana Eluana, em coma há 17 anos, que foi transferida para a clínica que aceitou desconectá-la dos aparelhos que garantem sua alimentação.
O caso de Eluana provocou um debate nacional sobre a eutanásia e protestos e mobilizações de organizações católicas contrárias à interrupção da alimentação. "Detenham este assassinato" clamou o cardeal mexicano Javier Lozano Barragán, 'ministro' da Saúde do Vaticano, em uma entrevista ao jornal La Repubblica. "Interromper a alimentação e a hidratação de Eluana equivale a um abominável assassinato e a Igreja não cessará de denunciá-lo aos gritos", acrescentou.
O fim da alimentação artificial foi autorizado em novembro pela Corte de Cassação italiana, mas não foi aplicado pela pressão do ministro da Saúde italiano, Maurizio Sacconi, que divulgou diretrizes que proíbem o cumprimento da sentença judicial por hospitais públicos.
"A Igreja defende a vida e sua posição não muda por veredicto judicial", comentou o cardeal mexicano. Eluana Englaro chegou durante a manhã à clínica "La Quiete" de Udine, onde será "desconectada" dentro de três dias, de acordo com os médicos.
A mulher, de 37 anos, está em coma irreversível desde 18 de janeiro de 1992, depois de um acidente de trânsito que a deixou em um estado de total inconsciência. Para o pai de Eluana, que luta há 10 anos na justiça para obter a suspensão do tratamento, a filha "prefere morrer a ser mantida viva artificialmente".
Depois que a clínica de Udine anunciou em janeiro a disposição para receber a paciente, apesar das pressões governamentais e religiosas, várias autoridades do Vaticano e políticos manifestaram contrariedade.
O papa Bento XVI afirmou no domingo que considera "inaceitável" o que chamou de "eutanásia". "A eutanásia é uma falsa solução para o drama do sofrimento" disse o pontífice, "um ato indigno para o homem".