Os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Hugo Chávez se reuniram nesta sexta-feira perto de Maracaibo (oeste da Venezuela) num de seus encontros trimestrais destinados a estreitar a cooperação bilateral e durante o qual serão assinados vários acordos. Os dois presidentes começaram a agenda do encontro visitando uma fábrica de produção de leite à qual o Brasil forneceu gado e tecnologia.
"A Venezuela está construindo um grande depósito de alimentos que dará segurança a seu povo. O acordo com a Venezuela é que o Brasil está disposto a transferir nossa tecnologia de revolução agrícola dos anos 60 para que Venezuela faça sua revolução agrícola", afirmou Lula. Lula chegou na quinta-feira à noite à base aérea General Rafael Urdaneta, em Maracaibo, procedente da Bolívia, onde se reuniu com Evo Morales.
"Nossa unidade não se traduz apenas em discursos que, no fim do tempo, se esgotam. A unidade se concretiza nessas coisas; nossos discursos estão se transformando em riqueza, em melhoria da qualidade de vida do povo", afirmou Lula.
Apesar de o intercâmbio comercial bilateral aumentar em 2008 pelo quinto ano consecutivo e avançar 12%, situando-se em quase 5,7 bilhões de dólares, a balança é desfavorável à Venezuela, que importou bens no valor de 5,1 bilhões de dólares nesse intercâmbio total, segundo dados da Federação de Câmara de Comércio Brasil-Venezuela. "Estou a favor de um maior equilíbrio na balança comercial", enfatizou Lula.
Chávez e Lula inauguraram ainda o "complexo socialista Ciudad Laberinto", um povoado situado num terreno de mais de um milhão de hectares numa planície árida, para onde foi levado gado brasileiro e onde será desenvolvido um projeto de risco também com tecnologia brasileira, segundo informou Chávez.
"Estamos num bom caminho. As coisas não acontecem com a rapidez que gostaríamos, mas, pela primeira vez, os governantes da América Latina se deram conta de que sozinhos somos fracos", acrescentou Lula.
"Cumpre-se o que disse Bolívar quando recebeu o primeiro embaixador do Brasil na grande Colômbia, em 1830, pouco antes de morrer: 'O Brasil vai se converter algum dia no maior avalista da continuidade de nossa nascente república'", declarou Chávez.
O presidente venezuelano reafirmou a boa relação que o une a seu colega brasileiro e refutou os rumores que falam de importantes diferenças entre ambos. "Antes tentavam nos igualar e agora nos diferenciam, dizendo que Lula é a esquerda e Chávez a esquerda má", explicou. Lula e Chávez aproveitarão seu encontro para definir a agenda de trabalho para as reuniões previstas em 2009.
Segundo Chávez, a reunião servirá para analisar o andamento dos projetos a longo prazo para a "progressiva recuperação da capacidade produtiva doméstica da Venezuela", em especial na área de capacitação agrícola e industrial, assim como planos de prestação de serviços bancários a segmentos de baixas rendas.
Além disso, os dois dirigentes vão tratar de temas de integração fronteiriça, assim como a incorporação plena da Venezuela ao Mercosul, que deve ser ratificada ainda pelo Senado brasileiro e pelo Parlamento paraguaio para se tornar efetiva.
Estes encontros periódicos "permitem aos dois presidentes monitorar todos os temas das relações bilaterais, minimizando as diferenças e buscando avançar numa agenda positiva", explicou Marcelo Baumbach, porta-voz do governo brasileiro.