Capitão da Inteligência das Forças de Defesa de Israel (IDF), o jornalista israelense Aaron J. Klein também é professor da Universidade Hebraica de Jerusalém e crítico da resistência palestina. Pouco após retornar da fronteira com a Faixa de Gaza, Klein falou ao Correio, por telefone, de Jerusalém. De acordo com o oficial das IDF, militantes do Hamas tentaram ontem sequestrar soldados israelenses e estão interessados em ampliar uma guerra de guerrilha contra as tropas de seu país.
Qual é o real objetivo da operação em Gaza: impedir o lançamento de foguetes pelo Hamas ou implantar um novo governo na região?
O objetivo primário dessa incursão é deter o lançamento de foguetes Qassam e Katyusha contra o sul de Israel. Eu estava na fronteira da Faixa de Gaza uma hora atrás.
Que riscos essa operação representa para os soldados israelenses?
Essa é uma boa questão, porque o que estamos fazendo é minimizar as baixas, o número de mortos. Nossos soldados não estão entrando nas cidades. As operações se resumem às imediações das cidades e vilarejos. Em primeiro lugar, nós não entraremos na Cidade de Gaza. Em segundo lugar, usaremos todos os tipos de técnica, começando com buldôzeres e incluindo dispositivos para destruir explosivos, minas terrestres e bombas que os nossos soldados encontrarem pelo caminho. Os tanques e blindados estão operando em pequenas cidades ao longo da fronteira. A movimentação é bastante lenta, com a utilização de buldôzeres e de forças da infantaria. Estamos limpando a área para criar uma situação em que não haja bombas implantadas ao longo das estradas ou minas que possam ferir ou matar soldados. A ordem do gabinete e do comando israelense é de minimizar as baixas nessa incursão.
Os militantes do Hamas têm condições de impôr sérias dificuldades às forças de Israel?
Sempre, sempre. Os militantes do Hamas estão usando táticas de guerrilha. Eu diria duas coisas. A primeira é que Israel sabe disso e, por isso, destruiu o sistema de telefonia celular de Gaza. Cerca de 24 horas depois do início da ofensiva terrestre, os guerrilheiros do Hamas estão agindo de modo confuso. A habilidade de eles entrarem em contato entre si foi danificada. Sua capacidade de controlar o campo de batalha está menor. A segunda é que a guerrilha pode provocar danos às nossas tropas, e está tentando fazê-lo. Eles querem um tanque de guerra ou um blindado de transporte de tropas em chamas e exibir as imagens na TV, para que todos possam vê-las, e reivindicar vitória. O Hamas tentou, por volta das 4h30 (0h30 de ontem em Brasília), sequestrar dois soldados dentro da Faixa de Gaza. Dois soldados das Brigadas de Golã foram surpreendidos por dois extremistas que saíram de um túnel, mas a ação não foi bem-sucedida. O Hamas sabe que o tema do sequestro é muito sensível dentro de Israel. Eles não ganharão essa batalha, mas poderão impôs sérios danos.
Como o senhor analisa essa tática de dividir a Faixa de Gaza ao meio?
Na verdade, a Faixa de Gaza foi dividida em três ou quatro locais. O objetivo é cortar o fornecimento entre as áreas e sitiar a Cidade de Gaza. Os soldados cortaram as partes norte e sul, e se deslocaram a partir de dois locais na região leste de Gaza. Então, podemos dizer que a Faixa de Gaza está dividida em quatro ou cinco partes. A Cidade de Gaza está cercada em todas as direções. O objetivo disso é criar bastante pressão no Hamas. A idéia não é destruir o grupo. Ninguém pode destruir completamente o Hamas. Mas podemos impor muitos danos nos líderes do Hamas, de forma que eles parem de lançar os mísseis Qassam, Grad e Katyusha contra o sul de Israel. A idéia é criar uma situação semelhante à de 2006 no Líbano. O Hezbollah não está mais fazendo nada contra o norte de Israel, porque não querem uma retaliação israelense.
O senhor espera um conflito longo?
Oficiais israeleneses admitem que a operação deve durar algumas poucas semanas. Eu creio que a incursão deve se encerrar até o fim da próxima semana. Acho que Israel vai encerrar a operação antes da posse de Barack Obama nos Estados Unidos, em 20 de janeiro.