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Israel terá 2009 cheio de incertezas

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Israel começará o ano de 2009 em meio a uma grande incerteza política, com eleições antecipadas em fevereiro, e um abismo cada vez maior dividindo os territórios palestinos. Há pouco mais de 12 meses, as negociações de paz entre israelenses e palestinos eram relançadas numa conferência internacional organizada por iniciativa dos Estados Unidos em Annapolis, Maryland. Os dois lados concordaram em estabelecer janeiro de 2009 como meta para o fechamento de um acordo. O momento, no entanto, é de mudanças e poucos avanços concretos. O presidente George W. Bush, que impulsionou as negociações, tem pouco mais de um mês na Casa Branca, de onde sairá no dia 20 de janeiro para dar lugar a seu sucessor, Barack Obama. Além disso, a tensão crescente nos territórios palestinos e a conjuntura diplomática mundial colaboraram nos últimos meses para deixar o cenário ainda mais desfavorável. Apesar de uma dúzia de encontros com o primeiro-ministro israelense, Ehud Olmert, e ainda mais reuniões entre as respectivas equipes de negociadores, o presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas, revelou no mês passado que os dois lados não haviam resolvido nenhum ponto sequer do prometido acordo. Enquanto isso, a expansão contínua dos assentamentos judeus na Cisjordânia acabou com a credibilidade do governo israelense, que prometeu impedir que mais colonos se estabelecessem no território, disse Abbas. Agora, com a saída iminente de Olmert, envolvido em denúncias de corrupção, e o discurso linha-dura dos dois principais candidatos à sua sucessão nas eleições de fevereiro, o acordo idealizado em Annapolis parece cada vez mais distante. O ex-primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, que lidera as pesquisas por uma estreita margem sobre sua adversária, a ministra das Relações Exteriores Tzipi Livni, pouco comentou a respeito da retomada das negociações no ano passado, preferindo se focar no que ele chama de "paz econômica" com os palestinos - idéia que, no entanto, já foi rejeitada pelos próprios. Para piorar, o conflito entre Abbas, apoiado pelo Ocidente, e o movimento radical islâmico Hamas, que tomou o controle da Faixa de Gaza em junho de 2007, se aprofundou ainda mais em novembro, após o colapso de uma tentativa de reconciliação entre as duas partes mediada pelo Egito. O Hamas afirma que não reconhecerá Abbas como presidente palestino após o fim de seu mandato, no dia 8 de janeiro. Abbas, por sua vez, ameaça dissolver o parlamento dominado pelo Hamas, eleito três anos atrás, e convocar eleições presidenciais e legislativas em 2009. Os militantes do Hamas já avisaram, no entanto, que não permitiriam a realização de novas eleições para o Parlamento antes de janeiro de 2010, e acusam Abbas de arrebanhar centenas de seus partidários na Cisjordânia. "O ano de 2008 foi um período de profundas fissuras internas, tanto para israelenses como para palestinos, pois os políticos dos dois lados deram mais atenção a seus conflitos internos do que à questão bilateral", apontou Nicolas Pelham, do International Crisis Group, think tank baseado em Bruxelas. "Israel precisou enfrentar seus colonos ortodoxos, que se recusam a deixar seus assentamentos no coração da Cisjordânia, enquanto a Autoridade Palestina fez o que pôde para atrapalhar a consolidação do poder do Hamas em Gaza", explicou. "Não conseguir resolver essas questões através de meios pacíficos pode significar um 2009 turbulento", concluiu Pelham. Apesar das promessas internacionais de uma ajuda de sete bilhões de dólares em três anos, a economia da Cisjordânia permanece estagnada, enquanto na Faixa de Gaza a situação se deteriora a olhos vistos em conseqüência do bloqueio israelense. As centenas de postos de controle israelenses impedem a circulação de produtos e pessoas ao redor da Cisjordânia impediu que a economia do território melhorasse, indicou o Banco Mundial em outubro. Israel abriu suas fronteiras por apenas quatro dias desde o início do bloqueio, e a falta de praticamente tudo - combustível, comida, medicamentos - tornou a população da Faixa de Gaza (1,5 milhão de pessoas) totalmente dependente da ajuda humanitária, informou por sua vez a ONU. "É como trabalhar para servir uma população de um milhão de refugiados com as mãos atadas nas costas", disse em novembro Filippo Grandi, comissário geral da agência de ajuda humanitária da ONU. Um trégua acordada entre Israel e o Hamas em junho deveria ter aliviado o bloqueio, mas os israelenses alegam que os grupos terroristas não respeitaram o acordo - que expira oficialmente no dia 19 de dezembro. O analista político Zakaria Al-Qaq disse que enxerga poucas perspectivas de melhora na vida dos palestinos no ano que vem. "As negociações foram infrutíferas. Os assentamentos judeus continuaram a crescer, e o número de postos de controle nas estradas já chegou a 600", apontou. Al-Qad declara-se "pessimista" sobre as chances de qualquer mudança de rumo que leve a um entendimento entre Abbas e o Hamas, mas acha improvável que o presidente da Autoridade Palestina leve adiante suas ameaças de convocar novas eleições para desafiar o movimento radical. "Isso selaria a dissidência entre a Cisjordânia e Gaza de uma vez por todas", estimou o analista.