MUMBAI - A Índia pediu nesta terça-feira (02/12) ao Paquistão que entregue vários supostos terroristas, entre eles o líder de um grupo islamita suspeito de ter cometido os atentados de Mumbai que provocaram 188 mortes, ao mesmo tempo que afirmou não planejar uma ação militar contra o vizinho e rival.
"Nova Délhi pediu formalmente a detenção e entrega das pessoas instaladas no Paquistão e fugitivas da justiça índia", afirmou o ministro indiano das Relações Exteriores, Pranab Mujerjee. "Estamos à espera da resposta do Paquistão", acrescentou.
Entre os suspeitos reclamados por Nova Délhi estão Hafeez Sayeed, o líder do grupo Lashkar-e-Taiba, com sede no Paquistão, ativo na Caxemira e principal suspeito dos ataques da semana passada. Os nomes constam de uma lista de suspeitos elaborada pelas autoridades indianas depois de um atentado executado em 2001 contra o Parlamento do país, que deixou 10 mortos.
A solicitação foi formulada pelo embaixador da Índia em Islamabad, Satyabrata Pal, em uma reunião celebrada na segunda-feira com autoridades diplomáticos paquistanesas. No entanto, o primeiro-ministro paquistanês, Yusuf Raza Gilani, pediu à Índia que divulgue as provas do envolvimento de paquistaneses nos ataques de Mumbai, durante uma entrevista à rede de televisão CNN.
"Nos deram nomes de organizações, mas isto não constitui uma prova. Se nos derem provas, vamos contribuir com nossa inteira cooperação", afirmou Gilani. "Esperamos por estas provas, e então daremos nosso ponto de vista".
O gabinete de segurança indiano, a principal instância de decisões militares e diplomáticas, realizou nesta terça-feira uma reunião para examinar a situação. Ao fim, Mujerjee afirmou que o país não planeja uma ação militar contra o Paquistão. "Ninguém fala de uma ação militar. O tempo dirá o que vai acontecer", afirmou Mujerjee.
O Paquistão propôs à Índia a criação de uma equipe conjunta para investigar os atentados de Mumbai. "O governo do Paquistão propôs um mecanismo de investigação conjunta, estamos dispostos a formar uma equipe para ajudar na investigação", declarou à televisão estatal o ministro das Relações Exteriores de Islamabad, Shah Mehmood Qureshi.
"Islamabad quer ir até o fundo das coisas nesta investigação e está disposto a cooperar da melhor maneira possível com a Índia", completou Qureshi, repetindo as boas intenções manifestadas nos últimos três días pelo presidente e o premier paquistaneses.
Homens armados desembarcaram na quarta-feira de um bote inflável nas praias de Mumbai e executaram um massacre durante 60 horas contra hotéis de luxo, a estação de trens de Mumbai, o centro cultural jucaico e um restaurante famoso, que deixou pelo menos 188 mortos - 22 deles estrangeiros - e 313 feridos.
Os canais americanos CNN e ABC News informaram que a Índia recebeu advertências em outubro dos serviços inteligência dos Estados Unidos sobre um possível ataque terrorista a partir do mar contra Mumbai,
Funcionários não identificados dos serviços americanos de inteligência afirmaram à ABC que alertaram os colegas indianos em meados outubro sobre um potencial ataque "a partir do mar contra hotéis e centros de negócios em Mumbai".
Uma fonte mencionou inclusive alvos específicos, incluindo o hotel Taj Mahal, segundo a emissora. A CNN destacou que fontes indianas confirmaram que os funcionários americanos fizeram pelo menos duas advertências sobre a possibilidade de ataques.
Funcionários da inteligência indiana afirmaram à ABC News que em 18 de novembro interceptaram uma ligação do Paquistão para um telefone por satélite que era usado pelo líder do grupo terrorista islâmico Lashkar-e-Taiba. Na conversa era mencionado um possível ataque a partir do mar.
Os funcionários americanos disseram ainda que a inteligência de Washignton examinou cartões pré-pagos de telefones celulares encontrados com os terroristas que agiram em Mumbai. Os mesmos os levaram a um "tesouro", diretamente ao Paquistão e com possíveis conexões nos Estados Unidos, informou a ABC.
Índia e Paquistão, "irmãos-inimigos", já se enfrentaram em três guerras desde a criação em 1947 após o desmembramento da Índia britânica.