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Obama enfrenta dilema comercial em meio à crise financeira

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Washington - Ceder à pressão política do protecionismo ou usar o comércio para estimular o crescimento na cambaleante economia americana? A pergunta resume o dilema que será enfrentado pelo presidente eleito dos Estados Unidos, Barack Obama, assim que assumir a Casa Branca, no dia 20 de janeiro, para traçar sua política comercial na bacia do Pacífico. Enquanto os líderes do Fórum de Cooperação Econômica do Pacífico Asiático (Apec, na sigla em inglês) se reúnem em Lima esta semana para renovar seus votos contra o protecionismo, Obama continua a contagem regressiva para herdar uma economia deficitária, que ainda não se recuperou da pior crise financeira desde a Grande Depressão dos anos 30. Em meio ao caos, o primeiro líder democrata a chegar à presidência em oito anos sofre forte pressão interna para ignorar acordos de livre comércio - assinados pela administração de George W. Bush com aliados chave dos Estados Unidos - em prol dos trabalhadores americanos. Do presidente Bush, por outro lado, espera-se que seu discurso para os líderes das economias da Apec indique que os Estados Unidos continuarão pressionando pelo livre comércio e rejeitando o protecionismo. Estes líderes, no entanto, provavelmente prestarão mais atenção à estratégia comercial de Obama para a região, que responde por quase metade do comércio mundial. "O novo presidente enfrentará mais pressões políticas a favor do protecionismo do que qualquer outro chefe do Executivo dos Estados Unidos desde 1930", estimou o subsecretário de Comércio Christopher Padilla, às vésperas da cúpula da Apec - que acontece de 21 a 23 de novembro. "O modo como o presidente eleito Obama responderá a essas pressões definirá o curso da economia global - e a identidade econômica dos Estados Unidos - durante uma geração", acrescentou. Outra dúvida é se Obama vai incentivar o plano iniciado pela administração Bush dentro do fórum da Apec, que prevê a criação de uma área de livre comércio no Pacífico asiático englobando países da China ao Chile. E, ainda que os líderes reunidos para a cúpula de Sydney no ano passado tenham concordado em "examinar as opções e perspectivas" para o ambicioso plano, Japão, China e outras economias da região demonstraram pouco entusiasmo a respeito, segundo membros da Apec. Outra iniciativa de Bush na Apec que a futura administração Obama precisará lidar com cautela é um acordo, negociado com Cingapura, Nova Zelândia, Chile e Brunei, para derrubar barreiras tarifárias. O novo líder americano também poderia tentar reconduzir a Apec em direção a seu foco central, que é a liberalização do comércio e o investimento. "Talvez a Apec possa voltar a se comprometer com a liberalização e a integração do comércio como seu foco central, ao invés da segurança", disse um assessor, que pediu anonimato, referindo-se à ênfase dada por Washington à questão da segurança nas deliberações do fórum depois dos atentados de 11 de setembro de 2001. "Tentamos usar (o fórum da Apec) para segurança em parte porque não estávamos em outras organizações que poderiam nos dar esta oportunidade", explicou. O governo Bush já forjou ou implementou acordos de livre comércio com 17 países, incluindo Austrália, Cingapura, Coréia do Sul, Colômbia e Peru. Obama - fortemente apoiado pelos sindicatos - se opõe aos tratados assinados com a Colômbia e a Coréia do Sul que, junto com o Panamá, ainda esperam pela aprovação dos acordos em seus respectivos congressos. Além disso, o presidente eleito já declarou sua intenção de renegociar o Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (Nafta), argumentando que sua prioridade é proteger os empregos americanos.