No próximo domingo (23/11), os venezuelanos terão que escolher os novos governadores de 22 dos 23 estados do país, além de 328 prefeitos e 233 legisladores provinciais. Pela primeira vez no país, um presidente se permite fazer campanha política abertamente por seus candidatos, apesar das críticas da oposição. ;Eu estarei em campanha minha vida toda, esta é uma campanha para toda a vida;, bradou o presidente Hugo Chávez, que é também o presidente do Partido Socialista Unido de Venezuela (PSUV).
O analista político e professor da Universidade Central da Venezuela, Trino Márquez, explica que a popularidade dos candidatos do presidente começou com porcentagens muito baixas. ;Em vista dessa situação, Chávez decidiu se colocar à frente da campanha eleitoral e se dedicar a ela em tempo integral. Inclusive transformou o Palácio de Miraflores no comando da campanha, fato que representa um abuso e um ato inconstitucional;, avalia.
Segundo o professor, a Carta Magna de 1999 estabelece que não se pode utilizar os recursos públicos para financiar campanhas eleitorais. A Constituição também sustenta que o presidente não pode favorecer nenhum candidato em particular. Para o analista, as investidas de Chávez baseadas no terror, intimidação, chantagem ou extorsão dos candidatos e eleitores opositores está dando resultados favoráveis. ;Seus protegidos em Miranda, Aragua, Mérida e outros estados onde estavam perdendo até há algum tempo, se refizeram e é provável que fiquem com o triunfo no próximo dia 23;, diz Márquez.
O estado de Carabobo é governado por um dissidente do chavismo, o general Carlos Acosta. Há quatro anos, o militar foi colocado no poder pelo próprio presidente, mas passou a ser considerado ;traidor; após se recusar a apoiar o candidato de Chávez para substitui-lo no governo estadual. Outro estado visado pelo mandatário venezuleano é Zulia. Em outubro, o presidente disse ao governador opositor, Manuel Rosales, que prepararia um ;plano militar; caso ganhasse a Prefeitura de Maracaibo, capital do estado.
Alguns candidatos de oposição deverão disputar as eleições, mas também podem não assumir por inabilitação. O deputado Mario Isea explicou ao Correio que Rosales é acusado de corrupção. ;Eu o denunciei por cumplicidade no caso de corrupção da loteria de Zulia, mas há denúncias relacionadas não só a enriquecimento ilícito com uso de cargo público. Ele também comprou e vendeu propriedades dentro e fora do país com dinheiro público.; Isea diz que este é o caso mais notável de corrupção de um candidato nestas eleições. ;Seus partidários estão tratando de acusar a todos os que o acusam, para apagar sua culpabilidade.;
Transparência
Chávez promete que os resultados das eleições serão transparentes. ;É um desrespeito contra o povo duvidar dos resultados. Convido-lhes a reconhecer, a partir de agora, as instituições e o Conselho Nacional Eleitoral (CNE);, disse, na sexta-feira. Segundo o CNE, 130 observadores internacionais participarão das eleições. A diretora de relações internacionais do órgão, Rosaura Sierra, informou que eles provêm de 34 países-membros da Organização de Estados Americanos (OEA) e 140 mil militares do Exército venezuelano devem garantir a segurança nas ruas no dia de votação.
No entanto, Márquez não confia na transparência da eleição. ;Como nos processos anteriores, toda a maquinaria governamental e do Estado se colocaram a serviço da campanha adiantada por Chávez e seus pupilos. O abuso de poder e o desequilíbrio institucional são obscenos;, criticou. O analista político destaca que o CNE trabalhou pouco para informar os eleitores sobre como votar, apesar da complexidade do processo: o cidadão deverá emitir vários votos (prefeito, governador e deputado regional) no mesmo dia. Ele também ressalta que parte da estratégia de Chávez se baseia na intimidação para forçar a abstenção às urnas de eleitores da oposição. Mesmo assim, o cientista político acredita que o comparecimento será superior às eleições anteriores. ;Parece que o povo entendeu que para tirar Chávez do poder ou ;parafusá-lo; ainda mais a ele, é preciso votar;, conclui Márquez.
130 observadores internacionais vão fiscalizar as eleições de 23 de novembro 328 prefeitos e 233 legisladores provinciais de 22 dos 23 estados serão escolhidos 140 mil militares do Exército venezuelano serão responsáveis pela segurança nas ruas