O príncipe Charles, herdeiro do trono britânico, completará 60 anos, nesta sexta-feira, sem ter idéia de quando, finalmente, receberá a coroa de sua mãe, a rainha Elizabeth II, que se mostra sempre cheia de vida, aos 82 anos.
Charles Philip Arthur George Windsor comemora a data com uma série de eventos ao longo da semana, que culminam, no sábado, com uma grande festa e um show privê do cantor Rod Stewart.
Há alguns meses, o filho mais velho da rainha da Inglaterra se tornou o príncipe de Gales com mais idade, desde que o título passou a ser atribuído ao pretendente ao trono. Apenas um herdeiro chegou lá com uma idade mais avançada do que ele: William IV, em 1830, então com 64 anos.
"Ele sempre teve o mesmo trabalho: esperar que sua mãe morra", escreveu no "Telegraph Magazine" a jornalista Emma Soames, neta de Winston Churchill e antiga amiga íntima do príncipe.
Ele tinha apenas quatro anos, quando, em 1952, sua mãe Elizabeth sucedeu ao rei George VI. "Ele está estacionado em um papel de espera", completou Emma.
Mas ele não está "frustrado", garante à AFP uma de suas biógrafas mais próximas e com mais trânsito no círculo Real, Penny Junor. O príncipe não espera seu posto de rei de braços cruzados, disse ela, destacando o papel hiperativo de pretendente ao trono, com o qual Charles se deleita.
Além de seus compromissos oficiais (600, no ano passado, sendo 77 no exterior), ele fundou pelo menos 20 ONGs, sob o guarda-chuva da "Prince's Charities". A mais importante instituição beneficente do país arrecada todo ano mais de 100 milhões de libras (123 milhões de euros).
"Eu poderia ter ficado sentado, fazendo praticamente nada e teria tido um monte de gente para dizer que 'idiota' que eu sou. Prefiro, então, ser criticado por fazer alguma coisa", declarou à rede BBC.
Esse exagero de boas ações poderia passar por pura propaganda, sobretudo, após o divórcio da princesa Diana, em 1996, quando o príncipe lançou uma ofensiva de charme e onipresença na mídia para reconquistar o público e permitir, em 2005, seu casamento no civil com Camilla Parker-Bowles, seu verdadeiro amor.
Trata-se, porém, de uma "paixão autêntica" essa que Charles nutre por suas obras sociais, garante Penny Junor.
Sua primeira ONG foi criada em 1976, com 7.400 libras (9.100 euros), dinheiro que Charles recebeu quando deixou a Marinha, lembra a biógrafa. "Ele ouviu no rádio uma reportagem sobre as dificuldades dos jovens que saem da prisão. Isso realmente mexeu com ele e ele fundou a Prince's Trust", ONG voltada para ajudar os jovens.
Sem falar em seus discursos e manifestos em favor da espiritualidade (Charles diz "admirar" o Dalai Lama), da arquitetura, ou até sobre o destino dos albatrozes ameaçados de extinção.
Seu principal cavalo de batalha continua sendo o meio ambiente. Seu último projeto, "Prince's Rainforests Project" (PRP, Projeto pelas Florestas Tropicais), reúne 15 das mais importantes organizações do setor no mundo, com o objetivo de "encontrar um meio de tornar as florestas mais rentáveis vivas do que mortas".
Preocupado com o aquecimento global, o príncipe foi da teoria à prática: sua frota de Jaguar, Audi e outros Range Rovers rodam 100% com combustível verde, incluindo seu antigo Aston Martin de 38 anos, que foi convertido para queimar um bioetanol feito do vinho.
Para algumas pessoas, suas idéias podem parecer radicais e ele, um doce e utópico romântico, que conversa com as plantas no jardim. Outras o vêem como um príncipe moderno e visionário que fundou, por exemplo, sua fazenda "orgânica" muito antes que isso virasse moda.
"Quando ele for rei, deixará para trás um legado que nenhum príncipe de Gales deixou", completa Junor.