Relatório do Fundo de Populações das Nações Unidas (UNFPA) deste ano alerta para a necessidade de que modelos para desenvolvimento, de promoção de direitos humanos e da igualdade entre homens e mulheres levem em conta as peculiaridades culturais. O desrespeito às diferenças, a imposição de um modelo único pode, na avaliação do relatório, "provocar mais mal do que bem". "As simplificações excessivas podem provocar reações de oposição à assistência ao desenvolvimento e fazer o jogo de quem é contrário à ampliação dos meios de ação da mulher", defende a UNFPA.
No ano em que a Declaração Universal dos Direitos do Homem completa o 60º aniversário, o documento alerta para os riscos de se criar imagens generalizadas e, sobretudo, de se julgar uma cultura a partir de valores de outra. "Mesmo no mesmo grupo, nem todos apresentam as mesmas normas e valores. Na verdade, as transformações surgem quando grupos resistem às pressões culturais", afirma o trabalho. O documento lembra, ainda, que nenhum grupo está livre do desrespeito aos direitos humanos. "Os direitos humanos são tarefa de todos. Ter sensibilidade cultural e compreender o contexto também é responsabilidade de todos", afirmou Thoraya Ahmed Obaid, diretora-executiva da UNFPA.
Políticas feitas a partir de uma "lente cultural", como sugere o relatório, podem surgir a partir de parcerias, por exemplo, entre a UNFPA e Organizações não-governamentais (ONGs). "É preciso que as comunidades considerem seus próprios valores, práticas e determinem o que impede e o que promove os direitos humanos", completou Obaid. A "lente cultural", no entanto, não pode servir para justificar as atrocidades cometidas contra as mulheres, pondera o trabalho. O objetivo é exatamente o oposto. A idéia é de que, através do conhecimento e da compreensão das peculiaridades de cada grupo, possam aparecer idéias criativas para mudar essas práticas.
O enfoque em "sensibilidade cultural", continua o trabalho, deve ser aplicado não somente para o desenvolvimento, mas também na assistência humanitária. O relatório destaca que, em situações de conflito, a assistência deve preservar os direitos das mulheres, a saúde e direitos reprodutivos. Para o relatório, a "lente cultural" é imprescindível ainda para que nações consigam alcançar os objetivos do milênio.