MOSCOU - A morte de 20 pessoas a bordo de um submarino nuclear por causa de um acidente ocorrido no sábado (08/11) representa, segundo os analistas, uma nova contrariedade para Moscou, que está apostando tudo em reafirmar sua força militar e seu papel de grande potência no cenário internacional.
O acidente também acontece num momento ruim porque o presidente russo, Dimitri Medvedev, deve assistir, no final de novembro, junto a seu colega venezuelano, Hugo Chávez, algumas manobras marítimas frente às costas da Venezuela.
Além disso, na quarta-feira passada, no dia seguinte à eleição de Barack Obama como novo presidente dos Estados Unidos, Medvedev pronunciou seu primeiro discurso do estado da Nação centrado numa salva de críticas antinorte-americanas.
E também fez uma velada ameaça ao anunciar a instalação de mísseis Iskander na região russa de Kaliningrado, entre a Lituânia e a Polônia, como resposta ao projeto de escudo antimísseis que Washington pensa colocar na Polônia e na República Tcheca.
"Depois da catástrofe do Kursk, em 2000 (118 mortos), e os vários incidentes sucesivos, o ocorrido no sábado éum duro golpe para a indústria militar russa", declarou à AFP em Moscou Pavel Felgenhauer, analista de temas de defesa.
Para Felgenhauer o acontecido representa um grave dano para esse setor, principalmente porque o submarino acidentado, da classe Akula, o mais rápido e silencioso da marinha russa, estava destinado a ser alugado com opção de compra pela Índia.
"No que diz respeito à opinião pública internacional, há pessoas que sabem muito bem que a Rússia não se fortaleceu", enfatizou Alexandre Goltz, especialista em temas militares da revista russa on-line Iejednevny Journal.
"Nossas forças armadas readquiriram em grande parte seu potencial de combate, mas a direção militar deve, no entanto, analisar não apenas os êxitos, como também os fracassos", declarou Medvedev na quarta-feira.
Quanto às exportações de armas russas, "é fácil ser fabricante de armas se se produz tecnologia que data dos anos 40", ironizou Bob Ayers, analista do centro de pesquiasas Chatham House, de Londres.
"A questão é saber quem quer comprar armas russas", enfatizou.
Os dirigentes russos tentaram usar dos grandes recursos petroleiros do país para reavivar a indústria militar russa, que, nos anos 90, depois da queda da URSS, entrou quase em colapso.
No entanto, o setor se encontrou em situações delicadas nos últimos anos e, inclusive, teve dificuldades para satisfazer uma encomenda da Índia de um porta-aviões da época soviética modernizado, o "Almirante Gorchkov".
Os analistas assinalam um amplo leque de problemas dentro do exército russo, como o moral baixo das tropas, a prática de trotes violentos e a diminuição do número de especialistas técnicos na indústria militar.
"Está claro que a desorganização que reina há muito tempo nas forças armadas e no setor militar-industrial e a ausência de normas de segurança rígidas têm um impacto negativo nas forças militares russas", comentou, por sua parte, Evgueni Volk, analista da Heritage Foundation.
"Como se isso não bastasse, o recente acidente com o submarino levanta muitas perguntas sobre a segurança da eneriga e das armas nucleares russas", acrescentou.