As convicções pessoais e a personalidade marcante da primeira-dama da França, a ex-modelo e cantora Carla Bruni, voltaram a colocá-la hoje em rota de colisão com as políticas do governo de seu marido, Nicolas Sarkozy. A divergência aconteceu em razão de seu apoio a um abaixo-assinado defendendo a "igualdade real" na França, organizado pelo doutor em Economia e em Ciências Sociais Yazid Sabeg. O manifesto faz críticas à política de imigração e ao conceito de "identidade francesa", defendido pelo presidente e pelos partidos de direita do país.
O texto, lançado à luz da eleição do democrata Barack Obama como primeiro presidente negro dos Estados Unidos, alerta para a intolerância social latente na França em função do preconceito contra os descendentes de imigrantes das ex-colônias na África. "Negligenciando sua própria diversidade, a França desespera uma larga faixa marginal de sua juventude e a impede de ser orgulhosa de seu país", diz o manifesto.
Autor do protesto, Sabed criticou abertamente o presidente. "Sarkozy não fez nada para melhorar a sorte de suas minorias", opinou, em entrevista ao Journal de Dimanche, de Paris.
Questionada sobre se apoiaria ou não o manifesto, Carla Bruni alegou que, na posição de primeira-dama, não poderia assiná-lo, mas expressou seu apoio. "Se eu fosse somente Carla Bruni, a cantora, eu assinaria sem problemas o Manifesto pela Igualdade", disse, antes de ponderar: "Mas eu me chamo Bruni-Sarkozy, e meu nome não me pertence mais. Seria estranho me comunicar com o poder, e logo com meu marido, por meio de uma petição. Isto não me impede de me engajar. E também não me impede de estar de acordo com o texto publicado".
Mesmo manifestando seu apoio, Carla Bruni defendeu seu marido e seu país de adoção, a França, citando a origem de Sarkozy. "Meu marido não é Obama. Mas os franceses votaram em um filho de imigrante húngaro, cujo pai tem sotaque, cuja mãe é de origem judia, e ele (Sarkozy) sempre reivindicou ser um francês vindo do estrangeiro", argumentou. "Ele não parece com as elites francesas tradicionais.
A política de imigração - que inclui a defesa dos "valores 'identitários' da França - foi um dos pontos que, ao mesmo tempo contribuíram para sua eleição, em 2007, e que geram mais críticas da oposição a Nicolas Sarkozy. Quando das revoltas juvenis nas periferias de Paris, em 2005, o então ministro do Interior pôs em prática sua verborragia para se referir aos manifestantes - a maioria jovens descendentes de argelinos, marroquinos e tunisianos - como "gentalha".