KINSHASA - O governo da República Democrática do Congo (RDC, antigo Zaire) se recusa a iniciar conversações diretas com as forças rebeldes dirigidas por Laurent Nkunda, que exige negociar sem intermediários com as autoridades de Kinshasa, anunciou o porta-voz do governo, Lambert Mende.
"Não há pequenos e grandes grupos armados. O fato de criar um desastre humanitário não dá a ele direitos especiais em relação aos outros grupos armados que atuam na província de Kivu Norte", declarou Mende. "O governo não vê nenhuma razão para discriminar outros grupos congoleses que têm propostas sobre a crise", acrescentou.
O líder rebelde congolês Laurent Nkunda afirmou no domingo em seu reduto de Kichanga (leste da República Democrática do Congo) desejar negociações diretas com o governo de Kinshasa e ameaçou, caso isto não aconteça, expulsar o mesmo do poder.
"Queremos uma negociação direta com o governo. Espero a resposta. Podem optar por se negar a negociar conosco. Porém, vamos obrigá-los a iniciar estas negociações, caso contrário, os expulsaremos do poder", declarou o ex-general tutsi congolês Nkunda à imprensa.
O porta-voz do governo da RDC considerou as declarações do líder rebelde "indignas e irresponsáveis". Vestido com uniforme militar, boina verde e óculos, Nkunda concedeu uma entrevista coletiva no fim de domingo em Kichanga, em uma remota zona do Kivu Norte, sem cobertura telefônica, situada 80 km ao noroeste de Goma, a capital provincial.
"Se não fizerem nada, vamos obrigar este governo a deixar o poder. Já entramos em Goma. Minhas tropas infiltradas estavam (quarta-feira) no aeroporto de Goma. Ordenei que parassem porque vi o sofrimento de meus irmãos de Goma", acrescentou.
Na quarta-feira à noite, ao fim de uma ofensiva relâmpago que derrotou o Exército congolês e o levou até a entrada de Goma, o Congresso Nacional de Defesa do Povo (CNDP), grupo de Laurent Nkunda, proclamou um "cessar-fogo unilateral" que tem sido, de modo geral, respeitado desde então.
Em janeiro, o CNDP assinou com outros grupos congoleses de Kivu um acordo que previa um cessar-fogo. O governo só aceita discutir com base neste processo, paralisado atualmente, ressaltou Mende.