As eleições presidenciais de 2008 serão lembradas como a disputa dos superlativos. Nunca na história dos Estados Unidos se gastou tanto para tentar levar um candidato à Casa Branca. Jamais a população doou tanto às campanhas. Os números exorbitantes de voluntários, eleitores registrados e participação nas urnas completam um quadro que surpreende os analistas. Os motivos de tamanha mobilização? Um misto de grande insatisfação popular com o governo atual, preocupação com o futuro e esperança de mudança.
De acordo com a organização norte-americana Centro para Políticas Responsáveis (CPR, em Washington), com base em dados da Comissão Federal de Eleições, o custo do pleito da próxima terça-feira supera os US$ 5,3 bilhões, valor mais alto registrado no país. Em 2004, os gastos foram 27% menores. ;Durante anos, o custo das eleições nos assombrou, especialmente das presidenciais. Mas esta é a primeira que supera os US$ 5 bilhões;, destaca Sheila Krumholz, diretora executiva do CPR.
Os gastos de cada candidato também passaram das expectativas. Desde o começo da campanha, o republicano John McCain desembolsou US$ 194 milhões. Barack Obama gastou quase o dobro: US$ 377 milhões. Um dos últimos anúncios do democrata, veiculado simultaneamente por seis emissoras de TV durante 30 minutos, custou US$ 11 milhões ; US$ 1 milhão pagos a cada canal, mais US$ 5 milhões empregados na produção da propaganda mais cara de que se tem notícia.
A grande quantidade de dinheiro arrecadado justifica os gastos elevados. A campanha de Obama garante ter mobilizado 2 milhões de doadores, que, juntos, encheram os cofres democratas com US$ 605 milhões. A maior quantia foi registrada em setembro: US$ 150 milhões ; um recorde em eleições. Destes, US$ 100 milhões foram obtidos pela internet, ferramenta que teve papel fundamental para permitir esses patamares.
;Esta eleição registra números sem precedentes do lado democrata, principalmente pelo entusiasmo gerado em torno de Obama. Não será fácil repetir isso na próxima eleição, dependerá muito do candidato;, afirma o cientista político Frank Baumgartner, da Universidade Estadual da Pensilvânia. A avalanche de doações para o senador por Illinois fez com que ele optasse por não usar o sistema de financiamento público, que limitaria a quantia a ser recebida de seus apoiadores. No caso de McCain, os doadores não foram tão generosos, mas lhe deram a importante soma de US$ 230 milhões.
Multidões
Não são só as cifras que impressionam nesta campanha. Desde que a então rival de Obama, Hillary Clinton, deixou a corrida, o senador vem batendo recordes de mobilização em cima das próprias marcas. No último dia 18, o democrata reuniu 100 mil pessoas em um discurso a céu aberto em St. Louis, no Missouri. Fora do país, chegou a atrair 200 mil pessoas para ouvi-lo em Berlim. ;Obama não desperta paixões apenas porque é o primeiro negro com reais chances de chegar à presidência, mas porque faz as pessoas se lembrarem de Kennedy ; também um ;primeiro; na sua época ; e do tempo em que as pessoas tinham confiança no governo;, ressalta o especialista Bert Rockman, da Purdue University.
Este foi o ano em que as campanhas conseguiram mobilizar mais voluntários. Só para a campanha de Obama, 8 milhões de pessoas se ofereceram para trabalhar de graça. A equipe de McCain não divulgou números. ;É mais fácil mobilizar as pessoas quando elas estão animadas, apaixonadas ou com raiva. Isto é, um alto nível de mobilização freqüentemente está acompanhado de um elevado grau de insatisfação. Mas isso pode não ser bom para o sistema político;, alerta Rockman.
Nas urnas, esta será uma participação histórica também. Estima-se que mais de 178,8 milhões de eleitores tenham se registrado. O número é muito maior que nas últimas duas eleições ; 129,5 milhões em 2000 e 142 milhões em 2004. A quantidade de cidadãos que preferiram votar antes do dia da eleição já bateu recorde. A expectativa é que 30% dos eleitores escolham o presidente até amanhã, pois cerca de 17 milhões já votaram.
;Há boas razões para os americanos estarem tão mobilizados. Os EUA enfrentam duas guerras de longa duração, milhares de soldados morreram, o orçamento foi arruinado, a economia está em crise, e o presidente é historicamente impopular. Além disso, um dos candidatos, se vencer, será uma figura histórica;, explica Baumgartner. ;A votação antecipada é só uma parte do entusiasmo desses eleitores.;
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