O bombardeio desta sexta-feira dos EUA no Paquistão apenas confirma que, sete anos depois da Guerra no Afeganistão, o conflito permanece sem solução. Em 2001, sem acesso direto à frente de combate, as forças norte-americanas e da coalizão internacional foram obrigadas a empregar uma estratégia pouco convencional. Em lugar de uma invasão em grande escalas, Estados Unidos e Reino Unido infiltraram pequenos contingentes de forças especiais e agentes dos seus serviços de inteligência. Como massa de manobra, empregaram os senhores feudais da Aliança do Norte, um grupo heterogêneo formado por líderes tribais e traficantes de ópio que só tinham em comum o ódio contra o regime Talibã e a Al-Qaeda, que tinha suas principais bases de treinamento no país.
O primeiro passo foi reequipar a Aliança do Norte com armas pesadas, inclusive canhões, tanques de guerra e blindados de transporte de tropas, fornecidas pela Rússia. O segundo, foi treinar seus combatentes nos rudimentos da guerra moderna. O Talibã, com enorme superioridade numérica, mantinha seus inimigos numa estreita faixa junto à fronteira norte do país. Seu maior erro, nessa fase do conflito, foi lutar em campo aberto, como em uma disputa tribal. Os soldados norte-americanos e britânicos, usando sistemas de pontaria a laser, apontavam os alvos para bombas lançadas por caças, promovendo uma verdadeira chacina.
Derrotados, os líderes talibãs recuaram para as áreas tribais do Paquistão e para os complexos fortificados de cavernas nas áreas montanhosas do Afeganistão para se reagrupar. Para administrar o país, o governo norte-americano escolheu Hamid Karzai, um homem ligado a grupos petrolíferos dos Estados Unidos.
O líder respeitado pelo país era o general Ahmad Shah Massoud, morto dois dias antes dos atentados da Al-Qaeda nos Estados Unidos, o único que se impunha no caos afegão. Não havia um dirigente capaz de controlar a Aliança do Norte. Sem o Talibã para combater, os senhores feudais recomeçaram a plantar ópio, matéria-prima da heroína. A corrupção instalou-se de forma desenfreada e as forças de ocupação da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) não possuíam efetivo suficiente para controlar as áreas rurais do país.
Aos poucos, talibãs e guerrilheiros da Al-Qaeda saíram dos refúgios. O novo Exército afegão é pouco treinado e equipado para contê-los. Para evitar a aviação aliada, os guerrilheiros atuam à noite e já impõem suas regras em 60% do território. Hoje, há mais riscos para soldados norte-americanos no Afeganistão que no Iraque. Parte das rotas de abastecimento da Otan foi cortada e a coalizão depende, cada vez mais, de suprimentos aéreos.
Em mais de 3 mil anos, os afegãos conseguiram derrotar todos os invasores. A história parece se repetir.