WASHINGTON - Se Barack Obama for eleito presidente dos Estados Unidos em 4 de novembro, em seu governo poderão reaparecer figuras democratas que evocam a estabilidade e a prosperidade da era Clinton. Se o republicano John McCain conseguir reverter a atual tendência e vencer as eleições, seu gabinete certamente será integrado pelos chamados "falcões", os especialistas política externa e defensores do liberalismo econômico.
Entre os assessores de Obama há luminares do governo de Bill Clinton, como Larry Summer, que alguns especialistas vêem à frente do Tesouro, justamente no período em que os Estados Unidos lutam para permanecer estáveis na pior crise econômica mundial desde a Grande Depressão de 1930.
O secretário de Estado democrata deve ser um diplomata exemplar para reverter a controversa imagem do país no exterior e abordar os aliados europeus para que apóiem Washington no Afeganistão e, talvez, também no Iraque.
O candidato democrata na eleição presidencial de 2004, John Kerry, é particularmente apto para a função. Seu cosmopolitismo e conhecimento do idioma francês serão um fator capital, ao invés de prejudicial, como aconteceu durante sua campanha frustrada contra o atual presidente George W. Bush.
Porém, Obama também pode optar pelo governador do Novo México, Bill Richardson, embaixador na ONU durante o governo Clinton (1993-2001), e que tem sido um incansável defensor do candidato democrata, ou até mesmo seu sucessor na ONU, Richard Holbrooke.
A ironia é que Obama, 47 anos, tem baseado a campanha na palavra "mudança", mas em tempos de dificuldades domésticas e internacionais, procurar o retorno dos velhos nomes pode dissipar os rumores sobre sua inexperiência na Casa Branca.
Hillary Clinton poderia ser um dos nomes do retorno ao passado. A grande perdedora das primárias democratas e ex-adversária de Obama afirma que recusaria um eventual cargo no gabinete e dá a entender que prefere promover o tema da saúde universal no Senado, um projeto que leva sua assinatura.
As duas campanhas têm equipes de transição para examinar futuros membros do gabinete, e trabalham perto da Casa Branca de Bush para garantir uma transição calma do poder até a posse do novo presidente, em 20 de janeiro de 2009.
Para McCain, 72 anos, o ex-candidato a vice-presidência democrata (em 2000) Joe Liberman é um bom candidato para ocupar o cargo de secretário de Estado. O senador por Connecticut abandonou o partido para fazer campanha pelo velho amigo republicano.
O ex-senador pelo Texas Phil Gramm era considerado um provável candidato para dirigir o Tesouro, mas perdeu as chances e prejudicou McCain ao acusar os americanos temerosos por seu bem-estar financeiro de serem uma "nação de chorões".
O veterano integrante da Casa Branca Stephan Hess - autor de um novo livro sobre as transições presidenciais chamado "O que faremos agora?" - advertiu sobre o perigo de acreditar demais no que dizem as previsões. "Dos assessores de Obama se pode elaborar uma lista de candidatos", afirma o analista da Brookings Institution.
"Porém, a ironia da questão é que quando se chega a este ponto, um bom número de pessoas dá as costas ao presidente eleito. O único presidente que anunciou que tinha todos que desejava para formar o gabinete foi Dwight Eisenhower", acrescenta Hess.
O secretário de Defesa de Obama deve ter capacidade par administrar a retirada de tropas do Iraque e reforçar a ofensiva no Afeganistão, além de ter credibilidade ante os militares sob um comandante-chefe muito jovem. Um dos nomes cotados por Obama é Colin Powell, ex-secretário de Estado a alto comandante militar. Escolher Powell seria claramente uma outra ironia, já que ele foi um dos princpais defensores da invasão do Iraque.
Para o Pentágono ele sonha com o senador republicano Chuck Hagel. Ambos poderiam exemplificar a promessa de Obama de cruzar as fronteiras partidárias. No entanto, uma seleção bipartidária tem seus limites, já que quem entra na Casa Branca deseja deixar sua marca na administração e virar a página para homens dos dois partidos só será possível se o vencedor das eleições presidenciais conseguir impor sua marca ao governo, deixando para trás os oito anos do governo Bush.