BARCELONA - Numerosas espécies animais, já ameaçadas pelo desaparecimento de seu meio natural, vêm sendo obrigadas, também, a enfrentar enfermidades pouco conhecidas, às vezes vinculadas à mudança climática com conseqüências potencialmente graves para os seres humanos.
"A maior ameaça da mudança climática provavelmente seja a propagação de enfermidades emergentes", declarou nesta terça-feira (07/10) em Barcelona Steven Sanderson, presidente da Wildlife Conservation Society, WCS, com sede em Nova York. "Toda a perturbação no meio ambiente tem efeitos imediatos sobre os animais selvagens porque não podem se adaptar rapidamente", destacou o médico William Karesh, diretor de programas de saúde da WCS.
Um estudo da Sociedade apresentado no congresso da UICN (União Internacional para a Conservação da Natureza) mostra uma lista de 12 agentes patógenos, como a peste e o cólera, que um aumento das temperaturas e das precipitações contribuiria para propagar rapidamente entre a fauna selvagem.
Entre as doenças citadas, figuram também a tuberculose e a febre amarela, o vírus Ebola, causadores de epidemias mortais em homens e primatas na África Equatorial, os parasitas externos e intestinais, o Mal de Lyme, transmitido pelo carrapato nos mamíferos, ou as "marés vermelhas" fatais para a vida marinha, devido à proliferação de uma alga (Karenia brevis) produtora de uma neurotoxina.
A mudança climática poderia também contribuir indiretamente para a propagação do vírus H5N1 da gripe aviária levando as aves migratórias a modificar suas rotas, entrando em contacto assim com aves domésticas, explicou.
Esta lista de enfermidades mortais da fauna selvagem é apenas "uma mostra", elaborada em função de seu impacto potencial sobre a saúde humana, destacou o doutor Karesh.
Assim, o chamado diabo da Tasmânia (Sarcophilus harrisii), um marsupial carnívoro, viu cair sua população em 60% nos últimos dez anos, devido a um misterioso tumor cancerígeno facial de que ninguém sabe a origem.